Mariana - Parte I

estou para escrever sobre este curioso fato em minha vida já há algum tempo. sabem o que é "amadurecer uma ideia"? parece coisa de artista, não? "digerir uma imagem..." enfim, eram coisas desse tipo que eu estava fazendo, não que eu seja nenhum artista. pois vamos logo ao fato curioso.

três mulheres em minha vida, um só nome: Mariana. o número três é um número de poder, do absoluto, de acordo com a arte que mais entende de números - não é a matemática - a numerologia. e o que essas três têm em comum? absolutamente nada, além de pertencerem ao mesmo gênero, é claro. sem misticismos...

por ordem cronológica, Mariana veio a mim em par junto com uma pessoa sobre a qual já escrevi, literalmente, até a exaustão: Isadora. esta dispensa mais comentários, já basta... mas Mariana se tornou, dos nossos últimos dias de convivência até hoje, em minhas lembranças, uma mulher bem mais fascinante e intrigante do que sua amiga. o destino de Isadora me parece muito certo: rica, inteligente, serena, casada, mãe de dois filhos de olhos azuis, no Lago Sul. agora Mariana... onde estará? seus horizontes são infinitos, imprevisíveis. a menina tímida, extremamente tímida, apavorada e indefesa contra o mundo, que pegava uma van pra descer dois quarteirões, foi a mulher que mudou mais drástica e rapidamente que já conheci em toda minha vida. em apenas três meses ela já estava rindo alto, de cabelos tingidos de vermelho e me apresentando bandas incríveis que ouço até hoje. nossa adolescência é marcante pela quantidade de informações que absorvemos, e Mariana foi uma importante fonte de novidades em vários campos, desde que passou a andar a pé comigo nas terças e quintas.

desde então, Mariana emanava rios de estilo e de beleza por segundo, para mim ela era - e ainda é - o símbolo do cult e do pós-moderno. soube que ela é DJ e fotógrafa, e talvez socióloga também. foi ao show do Radiohead em São Paulo, me matando de inveja!, foi a Berlim e passou bom tempo em Nova York, e eu tenho certeza que nosso papo, pra ela, não vai ser mais tão interessante quanto era antigamente. mas acho que ela ainda mora bem perto de mim, como nos tempos em que íamos ao Pátio Brasil andando e conversando fiado. eu tenho passado todos os dias pelo prédio onde ela morava, ou mora, sei lá, aquele prédio redondinho da 202 - bem único em Brasília - na esperança idiota de vê-la como a vi numa manhã de uns dois anos atrás, ou três (!), por aí. ela dirigia um Honda Civic e nem me viu. estava loira novamente...

acontece que agora ela povoa meus sonhos, fazendo de tudo o que eu queria fazer; enquanto eu escrevo essa merda, por exemplo, em outro fuso-horário ela se prepara para ganhar um Pulitzer, ou algo do tipo. enfim, eu deveria ter me apaixonado por ela, e não pela Isadora...

imaginem vocês, não seria muito difícil se apaixonar por aquela menina magrinha, com aquele corpo único, daqueles que enchem os olhos como uma modelo enche a televisão; cabelos lisos e longos, traços finos, amplo sorriso, aliás... coincidência demais ou não, exceto pela cor dos olhos, ela se parece até com a MARIANA Weickert, olha só. lembra um pouco, que engraçado. olhos castanhos, quase escuros, aliás. lábios finos e rosados, rosto corado quando a fazia andar demais no sol. foda é que nem idade eu tinha pra dirigir, ah se eu tivesse carro naquele tempo...

nos afastamos, é fato, mas ela era uma pessoa da qual eu fazia questão em minha vida. ela É o pós-modernismo, só acredita quem conhece; extremamente sexy e fatal. tornou-se tão etérea, no entanto, quase como aquelas fotografias amareladas dos nossos álbuns de família, lembrando tempos que não voltam mais, e longas reticências...

eu tenho uma convicção estranha de que nunca mais vou vê-la. a última vez que conversamos deve ter uns cinco anos. foi numa tarde agradável de começo de férias. nesse dia eu sonhei avidamente em levá-la pra minha casa, que estava vazia. mas não consegui, ou nem tentei, eu acho. e desde esse dia... eu cheguei até aqui, com esse monte de coisa sobre ela na cabeça. mas que droga, Mariana! eu quero uma mulher igual a você pra mim, idêntica; outra não serve. e eu faria de tudo que eu não sabia fazer em 2005 pra isso, com correção monetária e mais, muito mais!

talvez eu fale sobre as outras Marianas em outro texto, sendo que uma é a Gostosa da academia, que já mereceu um texto com o mesmo nome de sua principal característica: Gostosa. a outra acho que mudou-se para os EUA, e tem algumas poesias minhas bem antigas dedicadas a ela. essas três, bem, puxa vida, amanhã tenho que acordar cedo, e se eu continuar a pensar nas três de uma só vez, não vou nem dormir.

a Mariana, Parte I, sobrevive em mim através de duas maneiras bem peculiares a ela: através de músicas e imagens, do mesmo jeito que ela expressa seu mundo. a menina dos cabelos de cereja que gostava de Depeche Mode... de minha parte adiciono a ela os adornos do sonho utópico de todo poeta, dos suspiros e da esperança tola, para somar três.

e esta foi a primeira Mariana a apresentar-se em minha vaga existência.