Ainda existe poesia

Sempre ouço as pessoas comentarem, seja no ônibus, no programa jornalístico da TV, no centro da fofoca fresquinha em meu bairro que 'essa juventude de hoje está perdida'. Que triste para um jovem ouvir seu destino, ainda não planejado, sequer imaginado, ser desmistificado assim tão cruamente...

Será que somos nós mesmos os inconsequentes? Ou será nossa inconsequência o resultado da indução sofrida, desde muito cedo, de que somos perdidos e, assim, por mais que caminhemos jamais nos achamos?

Parece que não pensamos. Parece aos adultos e por vezes, acredite, à nós mesmos. Então nos esforçamos por nos mostrar santos e pagamos quietos a penitência de ser criança vestido em obrigações de adulto.

Acusados de 'adiantados', continuamos a aprender a repressão sexual, a absorver doses de infelicidade que nem ao menos nos são servidas em homeopatia. Acho que se não crescermos um espelho da frustração que impera em nosso cotidiano, estaremos de alguma forma, insultando esses que contra nós se manifestam.

Se ouvimos funk e rock n' roll, gostaria que entendessem que toda menina ainda lê poesia, que todo menino ainda brinda o amor com versos improvisados, emprestados ou roubados. Que ainda sonhamos com casamento, apenas não mais como uma prisão enfadonha, mas como um porto-seguro de sabores mutantes e agradáveis.

Mas nem ao menos eu me convenci de que o meu futuro, ou meus futuros em muitas caras, vai dar algo que preste; afinal com tanta torcida contra, pode ser que falte a energia e vivacidade necessárias para mudar o jogo...

Monique Freitas
Enviado por Monique Freitas em 01/12/2006
Reeditado em 11/09/2014
Código do texto: T306482
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