Pijamas

Quando eu era criança, minha mãe confeccionava pijamas para mim e minhas duas irmãs. No inverno, ela comprava flanelas coloridas e criava modelos que via em revistas e até mesmo filmes. Lembro-me que uma vez assistimos a um filme da menina espanhola Marisol, onde ela aparecia vestindo um pijama com um grande bolso na frente onde se via um grande “M”. Como tenho uma irmã que se chama Márcia, ela logo ganhou um pijama igual. O “M” minha mãe fez com um gorgurão bordô sobre a flanela cor-de-rosa. Os meus pijamas tinham motivos de menino: carrinhos, bolas, e formas geométricas. Naquela época, mesmo no verão os pijamas tinham as calças e as mangas longas, e o que variava era o tecido.

Cresci acostumado a dormir de pijama, e até hoje, no inverno, troco a minha bermuda caseira por um bom pijama de flanela, apesar dos protestos de meus filhos, que acham que este é um hábito de velho. Pode ser, mas que é confortável, isso é. Quer coisa melhor que assistir a um bom filme de suspense no inverno comendo pipoca e vestindo um velho e bom pijama de flanela?

Porém, assumidamente machista neste aspecto, odeio mulher de pijama... Mesmo no inverno, elas têm que usar camisolas. O aquecimento fica por conta de nós homens e de bons cobertores e edredons...

Durante a infância dos meus filhos, eles usaram pijamas, seguindo a tradição iniciada por minha mãe, mas com o passar dos anos, minha filha mais velha felizmente optou por usar apenas camisolas para dormir, e meu filho, desde a adolescência, prefere os shorts e as camisetas velhas.

Mas por que de repente, e depois de um período sem escrever, resolvo exatamente escrever sobre algo tão prosaico quanto o uso de pijamas?

Depois de um longo tempo sem um inverno real, este ano fomos surpreendidos com temperaturas abaixo de dez graus Celsius em nossa cidade. Mesmo o meu filho, então avesso aos pijamas, me pediu que comprasse para ele dois de malha, pois onde ele está morando faz muito frio. Então, guardadas as bermudas usadas durante os longos meses de calor, tirei da gaveta o velho pijama de flanela que até então só havia usado em viagens para lugares bem mais frios. Botei nos pés as ridículas pantufas com motivo de bola de futebol, tirei da adega o vinho do Porto e sentei-me em frente da televisão para assistir a um filme francês. Enquanto fazia esses preparativos, todas essas coisas me vieram à mente.

Quer vida melhor? Um pijama, um vinho do Porto, um filme francês, uma manta leve de material moderno, microfibra... E minha mulher ao lado, naturalmente usando uma camisola...