Tá na moda

Estava quase no fim do expediente. A porta de vidro estava trancada por uma questão de segurança, como é normal nos dias de hoje em todo local público. Para entrar, teria que apertar aquele botãozinho e esperar a recepcionista liberar, mas, ela nem percebeu. Agitou a porta como se ali estivesse a salvação, numa aparente fúria, - mas não estava furiosa, e disso eu tenho certeza.

O gerente, que estava por perto, estranhando o ocorrido, dirigiu-se à porta e, embora não fosse essa a sua função direta, abriu-a como forma de facilitar seu ingresso.

Aparentava ter em torno de setenta anos, talvez um pouco mais - ares de pessoa decidida e feliz; suas vestes denotavam tratar-se de uma pessoa de boa situação financeira - pessoa culta.

Extasiada com a decisão que havia tomado, ficou meio perdida naquele momento, quanto a quem se dirigir, diante das pessoas que poderiam atendê-la.

- Pois não - disse o gerente ao vê-la perdida; ao que ela de pronto respondeu:

- Aqui é do hospital?

- Sim, aqui é a administração - parte comercial.

- O que a senhora deseja?

- Quero falar com o médico do hospital.

- Quero fazer eutanásia - está na moda.

- Como disse senhora? Perguntou o gerente achando ter entendido errado.

- Quero fazer eutanásia, está todo mundo fazendo. Também quero aproveitar.

Pausa

- Minha senhora, a parte médica não é aqui. Vá até a esquina... quem sabe a senhora consegue.

Não menos feliz de que quando chegou, virou as costas e foi em busca de seu objetivo, deixando os presentes atônitos.

Eu, como nada tinha a ver com isso, só estava esperando ser atendido, olhei-me de cima a baixo e fiquei super feliz. Constatei que minhas roupas estavam um tanto desatualizadas – que nunca fui dado a acompanhar a moda, portanto, não seria esse modismo de “eutanásia” que faria a minha cabeça.

To fora.