AS CARTAS QUE AINDA AGUARDO

Quando criança, queria ser carteiro.

Admirava a profissão daquele simpático sujeito de calça e boné azuis, camisa amarela, que chegava montado em sua bicicleta Barraforte. Não sei o por que. E Talvez nem haja. Puro despropósito de criança.

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Já maior, busquei os motivos pra tal contemplação. A resposta veio de forma taxativa: Carteiro é uma profissão mística. É o nosso último elo de esperança.

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O carteiro fascina-me por sua nobre missão. Me intercede. Tenho vontade de ser chamado por nome pelo carteiro, anunciando, feliz, minha tão esperada mensagem. Devia ser convidado a ocupar lugar à mesa. Ser membro da família. O carteiro traz nossas intimidades com discrição de eunuco. Todo carteiro deveria ser tratado tal como Mario por Pablo Neruda, em "O carteiro e o poeta", relação de mais pura amizade. Neruda contribuía à época de um romantismo inerente à profissão dos carteiros, que desgraçadamente vem apagando-se.

Talvez eu sinta saudade de épocas que nem vivenciei. Me sinto em casa quando dentro da máquina do tempo. Olho pra trás com o saudosismo de quem apela por regresso.

Quando verifico minha caixa de correio, espero algo além das contas de banco e boletos de pagamento, de propaganda de supermercado e anúncio de TV à cabo. Aguardo a solidez de uma mensagem de afeto vinda de milhares de quilômentros, explicitando as letras tortas de quem tremia ao escrever, tamanha saudade. Aguardo o desabafo de quem abnega-se do teclado e, de próprio punho, redige cartas de amor. Perfumadas, inclusive. Ou de ódio, que sejam. Porque ódio é o feriado do amor. Uma hora acaba.

Não desejo que minhas lembranças sejam apagadas toda a vez que formatar meu computador. Não me surpreeendo com a artificialidade de mensagens eletronicamente enfeitadas. Prefiro a verdade de quem se entrega em cada palavra.

Amor só é amor se sentir o cheiro. Se for olho no olho. Amor tem que ser presente pra se fazer presente. Necessita verdades, encurrala carapuças e quebra espelhos. Descosturo qulquer invenção humana pra não atar-me às velharias do novo século. Mato as saudades, mas não permito que as saudades me matem. Enxergo a importãncia de reviver o que foi deixado pra trás. E diáriamente. Porque o homem educado não abre a porta do carro para a mulher. Prefere carregá-la no colo. Caso contrário, aceito o adjetivo de ultrapassado.

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Ainda acredito em carteiros.