Desilusões

Há várias noites sinto uma certa dificuldade para adormecer. Enquanto espero o sono chegar, mergulho nas minhas recordações. Algumas antigas, outras mais recentes.

Dentre as mais recentes, cerca de três anos atrás, lembro da mulher que parecia muito segura de si. Aparência. Chegando lá no fundo, sem dó, nem piedade, o que encontro é uma mulher frágil, mas presunçosa. Sequiosa de atenção, temerosa da rejeição.

Feridas cicatrizadas, sem medo, porém, de ir a busca de uma nova vida. Incoerente. Abria-me para a vida, arriscava, acreditava nas pessoas. Acreditava que acreditava.

Acreditava isso sim, naquilo que eu desejava. E eu desejava que as pessoas fossem como eu as idealizava. Pensava ainda, que encontraria um grande e belíssimo amor. O amor da maturidade.

O que encontrei, foram muitas pessoas desencantadas, desiludidas, descrentes da felicidade, das relações sólidas, do amor verdadeiro. Aquele que sublima, que vence distâncias, conceitos e preconceitos.

Encontrei pessoas que se usam, pensando que não usam ninguém. Egoístas, que pensam apenas na sua própria satisfação imediata. Que não sabem conviver com pessoas do outro sexo, seja no trabalho, ou onde for, sem que acabem se envolvendo fisicamente. Envolvimento puramente carnal. Que se machucam e machucam as pessoas sem, no entanto, perceberem que poderia ser diferente. Agem um tanto irracionalmente. Ainda pensam que se apresentando a ocasião, é necessário aproveitá-la, sem medir as conseqüências.

A possibilidade da rejeição, desencadeava em mim uma agressividade, antes desconhecida. Demorei muito tempo para perceber essa reação e compreendê-la. Percebi que por trás dessa pseudo-segurança, continuavam lá as antigas feridas, cicatrizadas, mas qualquer arranhão poderia fazê-las voltar a sangrar.

Ao conhecer essas pessoas, de conceitos tão diferentes dos meus, de um mundo tão diferente do meu, eu não entendia como podiam viver, respirar tranqüilamente, sem se envolverem com as pessoas com as quais faziam sexo, sem sentirem nenhuma culpa, ao se afastarem delas, ao primeiro sinal de algum sentimento mais carinhoso.

Mergulhando nas minhas recordações é que descobri que toda minha aparente segurança tinha origem na minha enorme ingenuidade e mesmo, uma enorme dose de pureza. Pureza de sentimentos, de intenções. Eu não conhecia esse mundo cá de fora.

Às vezes, penso que não vivi plenamente. Mas, refletindo mais, penso que eu vivi sim. Muito mais e melhor do que aqueles que usufruíram, mas não fruíram. Desfrutaram, mas não possuíram. Estão desiludidos, porque estão vazios. Viveram vazios e morrerão vazios. Sozinhos e esquecidos. Ou lembrados pelo nada que representaram.

Não serei hipócrita de negar que há ressentimento no que escrevo. Mas assumo plenamente que ninguém tem culpa dos meus desenganos. Se fizer a crítica, também faço a autocrítica. Eu me iludi, ninguém me iludiu. Aprendi algumas coisas, já não sou tão ingênua, mas não me transformei fundamentalmente, em outra mulher. Sou essencialmente a mesma, um tanto pura, ainda romântica, mas mais prática.

Sigo o conselho de Quintana: Parei de correr atrás das borboletas. Passei a cuidar de meu jardim. Se elas quiserem, virão pousar nas minhas flores. E eu estarei pronta para admirá-las e deixá-las voarem, se assim quiserem.