Ruídos sanitários

A pessoa entra no banheiro, se acomoda, começa a solucionar seu probleminha íntimo, quando entra outra usuária. Primeiro, ouvem-se passadas de rinoceronte que ecoam no ambiente. Em seguida, a outra atira algo no ar, que pelo som parece um inseticida ou desodorante (soube depois que era Bom Ar). Bate a porta do gabinete ao lado com estrondo e, ainda mais exasperada, derruba o assento provocando barulho ainda mais alto. A pessoa que até então estava ali quietinha e tranquila, prefere terminar rápido o que estava fazendo e dar o fora, pois não quer ficar para saber que sons provavelmente virão depois.

Ouvir ruídos sanitários é muito comum no dia a dia de quem compartilha banheiro com muita gente. Para nós, mulheres, sons produzidos no gabinete ao lado nem sempre causam estranhamento, a não ser em casos anormais como o citado acima. O problema é quando feminino e masculino são divididos por uma parede vazada em cerca de 50 cm, antes de chegar ao teto. Escuta-se de tudo. Tudo mesmo.

Por exemplo: uma amiga disse que jamais voltaria a cumprimentar, com aperto de mãos, os homens que trabalham no mesmo corredor. Motivo: ouvimos certa vez um indivíduo usar o vaso sanitário, dar descarga, fechar o zíper, abrir a porta, sair em direção à outra porta, sem sequer passar pela pia! Isso aconteceu mais de uma vez e nunca soubemos quem é, apesar da vontade de sair correndo, pegá-lo do lado de fora e... Aháá!

Engraçado também é quando se sabe quem está lá. É fácil reconhecer por um assovio, uma tosse, espirro, ou um comentário rápido com alguém saindo. E é tão nítido o som que vem do outro lado, que a reação é “meu Deus, não quero ouvir mais nada que o Fulano faça num banheiro, além desta tosse”.

Houve uma ocasião em que me preparava para escovar os dentes após o almoço quando entrou um cidadão no banheiro ao lado. Fechou a porta do gabinete, despiu-se (dá pra escutar!), sentou-se e aí, aff... juro que queria ser surda. Mil perdões se estiver sendo escatológica em demasia, mas preciso relatar: além dos ruídos horrendos (eca!), o tal gemia, e arfava, e gemia mais alto e mais longo, e sofria, respirava fundo, e gemia de novo. E a pessoa aqui, nem conseguiu passar o fio dental. O que fez? Foi terminar sua higiene oral em outro banheiro.

Ruídos sanitários são incômodos não só pelo nojo que causam naturalmente, mas porque expõem algo que o público em torno não está a fim de saber. E quem os escuta acaba ficando p*. No caso específico de ruídos emitidos na madrugada, no banheiro do vizinho do apartamento ao lado, é mais que demais. A pessoa trabalha muito, tem sono leve, acorda até com queda de algodão e não merece, não mesmo, ser acordada com sons lançados ao vento pelas vias superiores e inferiores de um vizinho fumante e devorador de carne inveterado.

Mas, fazer o quê? Este é o tipo de coisa que não se controla, muito menos se pede pra maneirar “Ô colega, dá um tempo aí, pô! Barulho incômodo, meu!”. Simplesmente convive-se, quando estritamente necessário. Se e quando possível, saio eu.

E esta história de sons e ecos vindos do lado de lá me fez lembrar de um documento fixado no quadro de avisos de um edifício residencial e que me provocou muitas risadas. Imagino o constrangimento do síndico ao ser obrigado a pedir aos condôminos para evitar os “ruídos sexuais noturnos”, que estariam atrapalhando o sono de muita gente. Para este pobre homem chegar ao ponto de ter que pedir controle de gemidos, gritos e bate-bate de cama na parede, a situação deve ter durado muito tempo e suscitado muita reclamação. Vixi!

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 03/07/2011
Código do texto: T3073616
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