Trajetos
Sou apegado a certos trajetos. O ritual de cumpri-los diariamente, principalmente o da volta do trabalho para casa, no finzinho da tarde, é uma agradável rotina que cultivo há bastante tempo.
No frio quase congelante dessa época, com um vento batendo no rosto, mãos no bolso da jaqueta, sem pressa para chegar, cultuando a invenção da touca, da luva, dos fones de ouvido, tudo é bom humor na volta pra casa, ali pelas 18h30.
Caminho 20 minutos nesse caminho trabalho-casa. Além de revigorante, ainda tem a vantagem de ser um hábito saudável, o que nunca foi uma das bandeiras que ergui na vida.
Cumprir com um mesmo trajeto todo santo dia nos torna íntimos das ruas por onde passamos. Das vitrines das lojas; dos rostos nas paradas de ônibus; dos malabaristas prateados do sinal vermelho, do fim de expediente do comércio e das repartições públicas.
Todos os envolvidos somos partes de um cenário que nós mesmos protagonizamos e repetimos diariamente, e gosto de saber disso enquanto caminho.
Quase chegando em casa, há ainda a irresistível vitrine da pet shop, com seus filhotes de cães e gatos que geralmente dormem tranqüilos, alheios ao caos do mundo lá fora. Na última esquina, o trailer do cachorro quente sempre bombando. E então o lar.
É inevitável que um dia a rotina mude, que outros caminhos surjam, e que eu sinta falta de meu trajeto diário do fim da tarde. E me pergunto se, como toda boa relação que chega ao fim, sentirá ele minha falta também.