O ócio da língua

Engrosso as fileiras das pessoas faladeiras por profissão. Graças a Graham Bell, falo sem parar o dia inteiro. Mais que isso! Ouço vozes!... Ouço e falo tudo sobre profissões. Desde a primeira assinatura da Carteira de Trabalho até a hora da última festa do pijama. Tem a profissão daqueles que passam parte do dia dizendo: “-Sobe!”. Ou, “-Desce!”. Aquela dos engravatados, que invejam os operários a assoviar e dizer gracejos para quem passa. A profissão, em franco crescimento, dos catadores de latinha. O trabalho daqueles que ninguém mais suporta ver nas sinaleiras. E tem aquela dos humoristas que vivem a dizer: “-Um passinho à frente, por favor!”. Ou, mesmo quando não caiba mais ninguém (sempre cabe mais dez): “Tem bastante espaço lá atrás!”. Se para falar utilizamos a língua, o que acontece com esse órgão da fala quando estamos em silêncio? Pensando nisto, passei a me ocupar de sua ociosidade. Não é que dá um trabalhão mantê-la relaxada quando lhe damos atenção ao ócio?! Normalmente ela está pressionando o palato e os dentes incisivos ou movendo-se de lá para cá. Pensando bem, parece que é a parte do corpo cuja inatividade requer maior esforço do que sua utilização...

               
meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 04/07/2011
Reeditado em 22/09/2011
Código do texto: T3075786
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.