O Gato Pardo Pidão.

Noite fresca. 22 no máximo. Nem uma alma viva ou desencarnada por perto. Não tenho cansaço de corpo. Olho pro breu do céu. Nossa, quanto tempo não reparava esses pontinhos brilhantes no firmamento - cintilância das estrelas. Vai bem um travesseiro no piso duro. Deitar na varanda. Na varanda dá pra deitar e ficar feito uma coruja – feito a coruja que pousava lá pelas altas horas na antena da sky, bem tranqüilona, circunspecta. Delibero esquadrinhar as estrelas, de barriga pra cima - Assim não há perigo, barriga pra cima, calmo, calmo. Ah garoto! As três Marias não precisam de apresentação, figuras fáceis deste céu antigo – estavam lá dando, como sempre, aquele mole. Eu sabia, pelo Seu Melquíades – meu vô muito doidão, que Deus bem o tenha – que as três Marias formam o cinturão da constelação de Órion, o caçador. Segundo a lenda – dizia o velho, Órion estava acompanhado de dois cães de caça, representadas pelas constelações do Cão Maior e do Cão Menor. Por mais que me esforce eu não consigo ver a configuração de estrelas do tal Caçador, tampouco a dos seus cães. Vi uma estrela de um fulgor maior, possivelmente Sírius, a estrela mais brilhante do céu, e facilmente identificável a sudeste das Três Marias.

Esse negócio de olhar o céu procurando caçadores, cães, as Marias, deu-me a doer a costela - estou um pouco magro. Recordo-me da coruja da antena Sky, a coitada que me encantava todas as noites, fora devorada pelo dócil gato daqui de casa. O peste do bicho tem lá o seu potinho de ração sempre cheio, mas só deixou as penas de lanugem felpuda pra eu ver.

Não. Parece que por esses dias não é negócio mergulhar nas estrelas do céu de meu Deus. Já bastam os muitos cães e caçadores daqui deste chão de meu Deus a me espreitarem. Mas salvem as Marias. Não nos incomodam – muito, muito pelo contrário. Hoje eu quero ser gato dos de sete vidas e não coruja. Ah, se eu fumasse pitaria um cigarro. Uma brahma não vai? Não, agora sou um gato, vou aliviar minhas tensões afiando as minhas garras no seu sofá. É bom você ficar sabendo, desde logo, que gatos sabem usar unhas e dentes muito bem - olha que avisei! Por isso me trate com afeição – ninguém quer uma cicatriz na cara. Mato cachorro a gritos. Não custa nada um carinho, custa?

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Joel Rogerio
Enviado por Joel Rogerio em 02/12/2006
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