DIRETO AO FURO

DIRETO AO FURO

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A escrita direta leva ao alvo mirado com muito mais velocidade que a escrita indireta, com aquela exigindo atenção apenas moderada por parte do leitor. Como efeito do uso menos intenso do raciocínio, tão rápida quanto é entendida, tão veloz a mensagem segue ao esquecimento. Ou, o que é semelhante, independente da atração que o texto transmita, a sua leitura poderá ter sido mera perda de tempo, a ponto de o cesto de lixo ser o destino imediato das idéias e palavras que tanto empenho custou ao seu idealizador.

Resultado improdutivo para ambas as partes, portanto, de vez que a interação leitor/autor representa o motivo básico, sempre, de qualquer matéria que seja tratada de forma escrita, além de seu óbvio registro à prova da força do vento.

Para exemplificar; em algum pedaço de papel ou em alguma folha de livro consta que Dourado* recebeu, em certa época, calçadas construídas em de ladrilhos de cimento, padronizados em forma quadrada e em cores preta e cinza, formando desenho como se fosse um tabuleiro de xadrez. O rigor do registro aponta que tal melhoramento aconteceu nas calçadas das ruas centrais da cidade em 1966.

A implacabilidade do tempo assenta 36 anos de uso sobre cada par de ladrilhos preto/cinza, promovendo seu inevitável desgaste, que se manifesta nas formas de trincas, solturas, quebras e falhas similares.

Quanto mais intensa a circulação de pessoas (ou a eventual, mas prejudicial passagem de veículos) sobre essas calçadas, mais visíveis as marcas do desgaste e, não rara, a formação de “buracos’ que furtam a planura que originalmente caracterizava este melhoramento urbano.

O capricho de alguns proprietários de imóveis rapidamente corrige a questão, substituindo os ladrilhos avariados e devolvendo o visual correto e a boa qualidade do piso.

Todavia, a desatenção de outros faz continuar, em diversos pontos, a existência daqueles “buracos” e, às vezes, a distração do transeunte rende-lhe uma bela entorse no pé ou no joelho.

A chuva, fenômeno natural e providencial, incumbe-se de propiciar situação incômoda ao preencher aqueles “buracos”, formando as poças d’água à passagem do pedestre, de modo que, em lugares onde tais poças são maiores, o passante precisa caminhar na rua para tentar não encharcar seus calçados.

Solução paliativa tem sido adotada: tampam-se os “buracos” com massa de cimento comum. Eliminam-se o perigo de acidente e o incômodo das poças d’água, mas, aos poucos, vão desaparecendo a padronização e a uniformidade das calçadas. Isto tem importância? Para uns, sim; para alguns, não; para outros, tanto faz, pois estão sempre se movimentando em seus veículos. Estes, entretanto, em muitos locais também têm de fazer seus malabarismos para que as rodas de seu veículo não caiam em “crateras” que já estão compondo a paisagem “asfáltica” dos leitos carroçáveis de diversas ruas da cidade.

Felizmente, há cidadãos preocupados e conscientes que, mesmo não possuindo uma máquina de tampar “crateras”, prestam sua colaboração, plantando placas de advertência com os dizeres: “CUIDADO, BURACO!”.

Se for necessária a identificação dos nomes das ruas onde existem os “buracos e crateras”, surge um exagero paradoxal: algumas esquinas de ruas chegam a ter três placas com o mesmo (claro!) nome, enquanto em outras ruas, desde seu começo até seu fim, não se encontra uma placa sequer!

Será que é por isso que os furos destas ruas sem placas de identificação não precisam ser reconhecidos?

*Dourado é uma pequena cidade do interior do Estado de São Paulo, cuja marca magna é abrigar no território de seu município o Marco Indicativo de Centro Geográfico do Estado (com tal identificação sendo feita por um Obelisco). Disto deriva o cognome afetivo de Dourado, a Cidade-Coração.