ALMA DE CASADA, MENTE DE SOLTEIRA

Ser humana. Ser urbana.Viver na selva da cidade como espécie alfa na condição beta. E na madrugada insone tentar lidar com devaneios solteiros e essa alma casada. Alma de casada. Ter tanta liberdade, tanto mar e não ter alguém especial para tirar meu tempo, meu sossego, meu dinheiro. E Com tanto tempo assim pra sonhar acabar até realizando! O sucesso vem rápido: leio os livros que quero ler, faço exercícios regularmente pro bumbum subir e todo o dinheiro que ganho é absolutamente meu. E quando a família pergunta “cadê o namorado?”, bem resolvidamente respondo que está bom assim. Bom, isso na verdade é o que todos os comprometidos dizem desse meu estado. Que era melhor quando estavam como eu estou. Então, concentro minha fé em acreditar nisso.

O pior de ser solteira talvez seja a madrugada de insônia. Pois,como já falei, tenho essa alma de casada presa em mim que quer pensar em alguém com carinho e devoção, se preocupar e tudo mais. Ela, por alguma razão, me aparece nessas noites de clarão, e, mesmo não alimentada com nenhum romance presente, colhe as migalhas do passado e insiste em sobreviver de carência. Às vezes, admito que: ela, a alma de casada, seja responsável por algumas atitudes de uma solteira indigna. Exemplo: aceitar sair com homens que não têm nada a ver comigo na esperança de que por trás do trintão que mora na quitinete vazia em cima da casa dos pais e diz que mora só ou do sujeito que não fala coisa com coisa e escreve errado haja algum espasmo de semelhança comigo para me agarrar nisso por pura vontade de me apaixonar. Decadente, mas de praxe, NÃO É?

A carência não tem critério. E é de carência que essa alma de casada vive. Descobri. Esta tal alma de casada só associa solteirice à infelicidade e falta de sucesso. Lembra-se da tia solteira envelhecendo cuidando da mãe...essa alma, não por ser de casada, mas tem referências e conclusões duvidosas, vive em mim e, ao mesmo tempo me causa pena. Felizmente eis que existe também essa mente de solteira. Mente de tatuagens, viagem, festa, e sucesso. Que pensa no amor também. Mas já viu que a vida é de certa forma longa. Longuinha. Que dá tempo pra fazer bastante coisa. Inclusive encontrar o amor. Que pode ser o cara que escreve errado. Ou o trintão da quitinete. Ou não, como é mais provável. O melhor mesmo é pegar esse tempo de solteirice e em vez de pôr esperanças em avulsos, pois, entender melhor como isso de ser solteira funciona. A alma de casada precisa se separar da carência. A mente de solteira talvez a peça em casamento.

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 11/07/2011
Código do texto: T3087694
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