Meus Oito anos.

Já havia algum tempo que Amaro sentara no banco laranja da antiga Praça em Apipucos.A idade já era avançada,tinha alguns-poucos-cabelos na alva cabeça,usava um óculos engarrafado,uma camisa qualquer de botão,era branca com manchas verdes,nas pernas,uma calça marrom e,nos pés,uma alpaca que fazia alguns anos que não as tirava.Queria mesmo era aproveitar seus últimos dias,pois sentia que não viveria muito;não tinha mais familiares,amigos,era apenas ele e sua casa.Num dia de ventos fortes,então,ele pegou um livrinho de coletânea poética que amava,tomou o guarda-chuva de decidiu abandonar sua casa e morar na praça,onde quando jovem,havia estado.Agora,Amara estava aqui,como livro sobre seu colo,apenas movia lentamente a cabeça buscando encontrar algum acontecimento que lhe tocasse.E,durante esse tempo que passou sentado viu:homens que roubavam senhoras,crianças que dividiam o osso com cachorro,mulheres que saíam da missa,casais se beijando,mulheres que saíam da missa,crianças que dividiam o osso com cachorro,mulheres que saíam da missa,casais se beijando.Era tudo tão belo.Amaro não se

levantava,por nada,continuava sentado...Se chovesse,não se levantava,no meio desses dias,ele já passou por noites frias:chuvas

fortes,abria,então,seu guarda-chuva,enrolava seu livrinho de poesias embaixo da camisa mas não se levantara.A cada dia que se levantara,lia uma poesia -amava as de Drummond- por isso sempre relia uma poesia deste,embora quase não enxergasse as palavras,mas,no fim,sempre lia.De quando em quando,chegavam crianças para tirar foto

como aquele pobre velho,ele recebia delas um beijo no rosto.Sorria.

Gostava daquela praça. Do lugar.Das pessoas.Do que via.TUDO.Um dia,quando o sol beijou o céu,Amaro abriu o seu livro e para surpresa...

estava na última página!Eram centenas de poesias,mas aquela que ele

leria seria a última!O que faria depois de lê-la?!Voltaria para casa?!Leria

tudo novamente?!Estava um pouco confuso,respirou fundo e cansado,

ajeitou o seus óculos e leu o título que lhe dera uma sensação estranha:Meus Oito anos.Leu pausadamente:

''Oh! que saudades que tenho/Da aurora da minha vida/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais!(...) Fechou impetuosa e repentinamente o livro.Os olhos estavam repletos de lágrimas de inexplicáveis sensações.Faltava a última estrofe,mas não queria lê-la!Lembrara de toda sua vida.

-Sinto que os meus dias estão pertos de me levarem à escuridão eterna!Mas não quero ir agora!Quero ficar aqui,quero viver mais aqui,quer ficar sentado neste banco,ficar nesta praça...viver só mais um pouco!Quero sentir de novo o gosto do dia.Das manhãs,ver as crianças correrem para me abraçar,as senhoras que saem da missa...Queria viver mais.Chorava demasiadamente.Sem querer,deixa cair o livro no chão,então, Amaro o apanha,pegando-o pela última página onde estava a poesia que não acabara.Enxugou os olhos,tentou fechar o livro,mas sabia que não poderia.Deveria terminar pois,afinal,mesmo com todo sofrimento que trouxera-lhe,era o mais belo poema que havia lido.Continuou:''— Que amor, que sonhos, que flores/Naquelas tardes fagueiras/À sombra das bananeiras/Debaixo dos laranjais!.O livro cai no chão,a cabeça de Amaral também cai levemente ao seu ombro.Agora naquele banco laranja,naquela velha praça,apenas o corpo de um pobre velho.

WandresonRocha
Enviado por WandresonRocha em 12/07/2011
Reeditado em 20/04/2014
Código do texto: T3091010
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