A Arte Necrófila

Confesso aos leitores que pensar em arte é uma tarefa árdua nos tempos atuais,guiados pelos modismos caprichosos tecnológicos;inserir-se em arte é um momento vivido por poucos, os escolhidos; mas produzir arte torna-se um momento sublime, reinado por dois ou três brasileiros, seis ou sete estrangeiros atuais, pois no passado artistas foram dados ao mundo aos montes, de ótima qualidade.

Mesmo nesse pouco tempo caminhando pelas veredas das letras adquiri o hábito de contemplar todo tipo de arte, instante conquistado pela Literatura, dotada das mais belas e imponentes manifestações artísticas, reverenciadas através dos séculos e exaltadas pelos seres de sensibilidade aguçada.

A Arte faz-se presente em nosso dia-a-dia, insere-se nas mais simples e mínimas manifestações, exigindo de seus apreciadores meios que muitas vezes fogem a apreciação dos seres considerados como normais.Mas se enganam os que acreditam fixamente que a arte não é para todos, rotulando determinadas manifestações artísticas como típicas aos burgueses, pessoas com Ensino Superior, autoridades.Brecht acreditava que a ópera(gênero musical reverenciado pela burguesia)deveria expandir-se para população carente.

As Vanguardas, manifestadas ao final do século XIX e início do século XX possuíam o propósito de chocar.Futurismo, Dadaísmo, Cubismo, Surrealismo...foram movimentos importantíssimos para o questionamento e direcionamento da arte no mundo. Marcel Duchamps e seu "Urinol", além da obra "Monalisa" com barba e bigode; Marinet surge com o Manifesto Futurista, impondo progresso; Picasso tendo em "Guernica" a manifestação dilacerada dos confrontos armados; O Surrealismo isnpirado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud.

Aqui no Brasil os modernistas da Semana de 1922 absorvem algumas dessas idéias vanguardistas, ganhando contornos em obras literárias de Mário de Andrade, Manuel Bandeira etc. e nesse emaranhando de idéias, suposições, conclusões, sugestões, a arte ganha "status" e se torna difícil a resposta sobre o que é arte. Vou mais adiante e me intrigo com a arte exposta nos cemitérios,arte necrófila, exposta em túmulos. Será que as obras póstumas,ou seja,feitas para reverenciar, embelezar, guardar aos mortos serão arte?

A Estética sempre pautou o Humano,guiou suas escolhas e conduziu decisões,ficando a frente de qualquer outra medida decisória.E mesmo depois de mortos,os entes não são esquecidos,dando margem à construção de uma morada fúnebre aos que já se foram.E é nesse momento que se afloram as disputas entre as classes sociais:ricos erguendo verdadeiros monumentos "mumescos",templos sagrados;pobres enriquecendo de concreto,túmulos que até ontem eram cobertos por terra vermelha e dura;flores de plástico que não morrem sendo trocadas pelas naturais,mantidas diariamente pelo capital burguês.Mas onde está a arte? Sacra ou profana?Está representada pelas imagens de santos ou na ousadia das fotos e dizeres que ali residem;poderá estar na composição do material empregado para construção de tal mausoléu ou na simples junção de um punhado de terra vermelha.Sei que a arte está ali:bela para alguns por ser levantada e decorada pelo capital,mas apreciada por outros por demonstrar a riqueza da simplicidade,esculpidade nos moldes da humildade.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 05/12/2006
Código do texto: T310350
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