DE TAXISTAS PORTENHOS...

Muito já se tem dito dos taxistas de Buenos Aires... Que é preciso tomar cuidado com as várias maneiras que eles têm de ludibriar, enrolar mesmo os turistas, principalmente brasileiros.

Já fui a Buenos Aires muitas vezes, porque gosto mesmo daquela cidade, do seu jeito europeu, da cultura, dos shows e dos musicais que sempre estão em cartaz nos teatros da Rua Corrientes e da Avenida de Mayo, e, tirando a primeira vez que fui, acho que em 1990, em que um taxista acabou “fintando-me” vinte dólares, nunca havia tido problemas com os motoristas de taxi da capital portenha. Mas desta última vez, acabei tendo muita coisa para contar aos amigos sobre nossas viagens nos taxis de cor preta e amarela...

Nesta última viagem, servi de cicerone a um casal de amigos que nunca haviam ido a Buenos Aires, e quis mostrar a eles os pontos principais da cidade, evitando o cansativo “city-tour”. Quando fui levá-los ao emblemático Caminito, hoje lamentavelmente decadente e sem os encantos de outrora, entramos em um taxi na porta do hotel e pedi que o motorista nos levasse até o bairro onde se encontra o logradouro, o "la Boca".

O motorista foi categórico:

“- A la Boca no voy”

Perguntei a ele por que não queria levar-nos ao referido bairro, se era porque estava perigoso...

Ele respondeu que não, que simplesmente não ia a aquele bairro, e que se quiséssemos ir, poderíamos descer do seu carro...

Descemos do carro entre indignados e surpresos e também dando risadas, pois o motivo pelo qual ele não nos havia levado até lá era porque ele não era torcedor do Boca Juniors, time de futebol que tem seu estádio naquele bairro, a famosa Bombonera, e sim do River Plate...

Em seguida, tomamos outro taxi, e contamos a historia ao motorista, que respondeu:

“Que estúpido”, mas, mesmo eu tendo contado que já conhecia a Boca e que essa era talvez a minha décima vez em Buenos Aires, o rapaz cheio de brincos, cabeludo e muito falante, dizendo conhecer o Brasil e adorar nossas praias, não teve pudor em fazer o caminho mais longo, cobrando quase três vezes mais que a tarifa normal.

Na volta, tomamos um taxi na porta da Bombonera, e após rodar alguns quarteirões, o motorista, após atender o celular e mostrar-se surpreso, parou o carro e me disse: “os senhores vão ter que descer, tomar outro taxi, porque estou sem os meus documentos”

Uma noite, após termos jantado em um restaurante no Puerto Madero, entramos no taxi e pedi que o motorista nos levasse até o nosso hotel. Ele me disse:

“- Onde é esse hotel?”

Eu respondi que era perto do obelisco, e ele,

“- Mas e o endereço?”

Eu disse:

“- Carlos Pelegrini”

“- Sim, mas...

E eu:

“- Carlos Pelegrini, logo após Lavalle...”

“- Agora sim... Eu trabalho como taxista há vinte anos, e faço questão de não saber o nome de nenhum hotel e de nenhum restaurante. O passageiro é que tem que saber. É como se, em São Paulo, eu entrar em um taxi e pedir ao motorista que leve à casa do Roberto. Existem muitos Robertos em São Paulo, não é?”

Felizmente, eu tive a resposta na ponta da língua:

“- De fato, mas em Buenos Aires, que eu saiba, existe apenas um Hotel Panamericano...”

Ele finalmente se calou e nos deixou na porta do hotel.

As outras histórias são menos interessantes, como a do taxista que, ao levar-nos ao Bairro Palermo, deixou-nos em um restaurante onde havia uma fila de espera. Ele entrou, conversou com a recepcionista, e nós logo fomos chamados para ocupar uma mesa. Naturalmente ele tinha algo acertado com restaurante, que por sinal era excelente, e foi onde comi o melhor bife chorizo da minha vida.

Nossas outras viagens de taxi em Buenos Aires foram sem exceção cheias de emoção, nós rezando para chegar sãos e salvos, e com vontade de lembrar o motorista que não se tratava de uma corrida de Fórmula 1...