Ensaio 1

Céu branco em nuvem
Através de uma janela
Prenúncio de luz...


O dia amanhecera assim, branco. Talvez as nuvens. Talvez os acontecimentos "ausentes". Olhou pela janela, em busca de novidades...na rua em frente nada de anormal. Apenas um caminhão de mudanças. E um homem carregando uma caixa.

Suspirou.

E ficou ali, por alguns minutos, observando a cena. "Cuidado. Frágil" - estampava o grande embrulho.

O que estaria lá dentro? - pensou. Provavelmente vidros. Taças de cristal, quem sabe? Ou várias taças. Todas de cristal, daquele finíssimo. E o homem, imponente. Mãos firmes. Os olhos fixos na caixa. O caminho para a loja ao lado onde se depositariam as prováveis belezas cristalinas era logo ali. E a segurança de cada objeto depositada naquelas mãos. Firmes. E os olhos e mãos fixos naquele ponto - único.

E o que havia ao redor? Um empecilho no meio do caminho? (havia buracos nas calçadas, havia bueiros abertos, havia garrafas jogadas...) Nada importava. A caixa frágil pedindo cuidado estava segura em mãos firmes e olhos fixos. Não se sabia. Mas um detalhe - um apenas - poderia escapar-lhe aos olhos. E a fragilidade das taças de cristal seria mais forte que a segurança de suas mãos.

E de repente, foi acordado de seus pensamentos. Um choro de bebê vindo do quarto. Correu. Ali, no berço, um ser "novinho em folha", tão lindo. Tão frágil como um cristal pedindo cuidado.

E o pegou no colo. O bebê, antes inquieto, olhava-o fixamente, apenas esperando o próximo passo. Não o dele - pensou. O próximo passo é meu. Eu, carregando esse ser delicado... Uma vida, um melindre em minhas mãos.

A vida pede em silêncio: "Cuidado, frágil".

(Adriana Luz)

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