Sim ou não!

Uma vez ouvi que quem se recusa a dizer “sim” ou “não” corre o risco de passar a vida inteira vendo o sorvete derreter antes de dar a primeira lambida. É isso que vai deixando a existência sem sabor: o “talvez”. Simplesmente porque é impossível concretizar ideias diante das incertezas. Comprar um carro, escrever um livro, beijar na boca... qualquer desejo, simples ou complexo, é travado por esse “chove, não molha”.

Aos olhos menos atentos, “talvez” pode aparentar ser um eufemismo simpático. Uma forma legal de a vida não te contrariar e/ou preparar o terreno para o que está por vir. Tem gente que (acha que) precisa desse freio, pois não aguenta o baque, mesmo que seja notícia boa demais. Há de se admitir, porém, que progredir requer sentenças absolutas. É “sim” ou “não”.

Dizer “sim” a um casamento abre caminhos para vestido branco, lua de mel e comunhão de bens. “Não” pode até doer, mas é a deixa para achar diferentes trajetos o quanto antes e curtir seus benefícios. Nenhuma das respostas é fácil, no entanto, ambas prometem alegrias, cedo ou tarde. É isso que faz valer a pena. Só o “talvez” que é chato, tedioso... sem sorvete. É coisa de covarde – mesmo que seja uma fraqueza momentânea, o medo de ter que pensar no plano B, ou C, no caso de uma decisão errada.

Pior ainda é ficar à mercê do “talvez” dos outros. É moleza permanecer em cima do muro, esperando que pessoas ou acontecimentos se decidam por você, só que isso prejudica o resto do mundo. Exemplo típico é o pretendente que empurra até o último segundo a tarefa de definir se está a fim ou quer partir para outra. Dá vontade de sacodir a cabeça do indivíduo! Convenhamos, só almeja o meio termo, esse negocinho de “não fede, nem cheira”, quem prefere não se comprometer com a vida.

Realmente é perigoso tomar as rédeas se esse tal livre arbítrio existe de verdade. Não há destino, nem qualquer força superior para culpar pelas suas falhas de julgamento. Aí, eu entendo, “talvez” tem lá seu conforto, porque cria a chance de um intrometido vir e se decidir por você. Será ele o causador da sua derrota. Por outro lado, também nunca será seu o mérito das conquistas.

Quem quer se orgulhar de ter apenas o que lhe foi dado de mãos beijadas? Bonito é fazer acontecer, ser autor da sua história, ainda que isso inclua alguns defeitos na fabricação dos seus momentos memoráveis. Se você olhar para trás, verá que mesmo que sua vida tenha sofrido milhões de “nãos” desagradáveis, há sempre a chance de dar a volta por cima e construir muito mais do que se a narrativa for marcada por “talvez”. Viver é isso, o constante decidir.