OS DOIS TELEFONEMAS DO DOUTOR EMERSON

OS DOIS TELEFONEMAS DO DOUTOR EMERSON

"- Alô, por favor gostaria de falar com meu amigo Francisco. Ele está? É o Dr Emerson. Espero sim. Obrigado. Oi... como vai, meu amigo? Aqui está tudo bem. Com a família? Sim está tudo ótimo. E vocês? Que bom! Você tem um tempinho pra me ouvir? Como? Ah! Tem todo o tempo do mundo? Sem querer atrapalhar. Como sempre me atendendo, tirando seu precioso tempo para ouvir meus desabafos. Você é o meu melhor amigo, sabia? já nos conhecemos há tantos anos! Há tanto tempo que nos confidenciamos, né... e só com você que tenho liberdade de falar minhas alegrias e tristezas. Meus problemas pessoais. Somente você que me inspira confiança... mais ninguém... Fico feliz que você pode me atender. Desmarquei um horário de um paciente... porque precisava mesmo falar com alguém, ou seja, com você... desculpe amigo... É claro que devo lhe pedir desculpas... pois estou atrapalhando. E aí, meu amigo, muito frio nessa cidade? Aí é quase na divisa do Paraná, e nessa época a temperatura é baixa. Não atrapalho? Que bom... Pois é, Francisco. Você conhece a minha história. Sabe o quanto sou... apaixonado pela aquela mulher... sim, ela mesmo. A Heidy... Nossa! Eu a amo muito... Mas sabe, por que será que pra sermos felizes... temos que pensar nos outros? Sei que com você aconteceu algo parecido, né... É sempre assim. Entre eu ela... poderíamos viver um para o outro... mas... e as demais pessoas envolvidas? É muito complicado. Às vezes nos falta coragem! Sim, concordo com você. Já pensou nisso também? Já leu meu poema, ou melhor, meus poemas que fiz pensando nela? Depois do episódio, escrevi várias poesias, a maioria delas aqui mesmo no consultório. Se gosto de ouvi-la? Vou falar uma coisa pra você: a voz dela pra mim, é a mais doce melodia a soar nos meus ouvidos. Sou grato a você por me ouvir, amigo Chico... Obrigado mesmo... com certeza ligarei. Abraços e fique com Deus. Foi ótimo ter falado tudo isso. Outro dia conversaremos de novo..."

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"- Alô... gostaria de falar com Sr Francisco. É ele mesmo? Nossa! Não reconheci. O que aconteceu com sua voz? Está diferente. É a velhice? Pare com isso, meu amigo. Você ainda tem muito café no bule... (risos). Mas a memória está muito boa. Reconhecer minha voz depois de tantos anos... ah! Sou inconfundível! Como vão as coisas por aí. Mudou de cidade e de clima. Aí é mais quente? Sim, estou sabendo. Essa dizem que é muito linda. Vou sim, e vamos fazer um churrasco igual a dos velhos tempos. O casal de filhos casaram e estão morando em São Paulo? Sei. Logo virão os netos. Fico feliz em saber que estão todos bem, constituiram famílias, que essa é o esteio da sociedade. Os meus filhos? Todos casados e já tenho 5 netos. Estou quase um velho... (risos). Que maravilha, né. O tempo não pára. Você está rindo, mas é verdade. Você perguntou da Heidy? Nunca a esqueci. Pelo contrário. É mesmo? Você se tornou poeta? Tem um livro publicado? Fico feliz com isso. Eu continuo fazendo minhas poesias... aquelas que você sabe. Algumas pensando nela, mas tenho que esquecer... Ela se casou e não deu certo. Está muito bem financeiramente, mas... Ela descobriu meu telefone... ligou-me e veio até o consultório. Acho que ainda gosta de mim. Tudo o que eu gostaria que ela fosse feliz, mas isso não aconteceu. O rapaz que se casou com ela, não presta, conforme ela mesma contou. É estelionatário. Está me ouvindo? Ah, sim. Fizeram divórcio. Ainda bem que ele não a perturba. Com certeza não a amava. Ele já tem outra mulher e tem filhos com a outra. Com a Heidy, não. Não tiveram nenhum. Ainda bem, né. Será que... chegou nossa vez? Ainda vamos viver essa tão sonhada felicidade? Não sei, meu amigo... isso tem me tirado o sono... Alô... Fran.... alô..."

(Christiano Nunes)