Eu, eu, eu!

Faça algo por você. Isso devia ser uma lei. Há de se admitir que o egoísmo, por mais que possa ser um defeito grave, é também necessário em alguns momentos, um fator de equilíbrio para quem insiste em se anular pelos outros ou não consegue defender os próprios desejos, como se mil obrigações fossem sempre mais urgentes. Esses esquecem que tomar a decisão certa requer, às vezes, desconsiderar o resto do mundo e pensar honestamente no que é que você necessita, qual é a revolução que vai melhorar a sua vida. Afinal, ninguém mais está grudado no seu corpo 24 horas por dia. E a pessoa a ser 100% afetada por cada um dos seus passos é justamente você.

Uma das últimas coisas que fiz por mim foi Toronto. Um presente que podia ter sido freado por inúmeros fatores: o inconveniente da empresa em treinar um substituto, a saudade que forçaria meus pais a sentirem, os altos gastos... Se eu fosse pensar além de mim, teria dito mil "nãos" ao Canadá. No entanto, "eu preciso disso" foi o argumento a que sucumbi. E deu certo, porque o mundo é sabiamente adaptável. Não houve um colapso no meu ex-trabalho. Meus pais começaram uma vida de aventuras. Minha conta bancária segue azul.

Mas, calma! Fazer algo por você não tem que ser um exercício praticado no nível “Hitler” de obsessão. Excessos são prejudiciais, mesmo quando é coisa boa demais – até sexo tem um patamar considerado doentio. O segredo está no egoísmo controlado. Fazer questão de buscar alegrias em uma página em branco, quando a trama de agora já não tem o mesmo brilho de antes. Não temer dar um ponto final, trocar os protagonistas, matar os vilões. A maior verdade é que a vida consegue se reprogramar quando decidimos mudar algo nela para melhor. Sempre que eu acreditei nisso, fui feliz.