ESTRATEGIAS DE CONQUISTA

Dia desses encontrei, amassado entre uns livros antigos, algumas anotações da minha adolescência. Caí na risada.

Tratava-se de um rascunho contendo o que deveria dizer para as meninas nas matinês, aos meus catorze anos. Tudo calculado. Cada resposta dela seria um ataque meu. Mas até certo ponto. Dali em diante eu não sabia mais como proceder, o que configurava gaguejos e engasgos na frente das meninas quando eu partia pra prática; a continuação não continha em meu rascunho.

Eu sabia introduzir e desenvolver. Mas não concluir. E nem havia como. Minhas anotações davam as coordenadas de um caminho obrigatóriamente desconhecido.

A verdade é que amor é bicho solto. Entramos em parafuso ao bolarmos mirabolantes planos para dominá-lo.

O primeiro passo é sempre o mais perigoso. É o passo no escuro. Um pouco de falta de sorte e é passo em falso. Abismo. Deve ser o mais estudado, o mais calculado. Ela está ali, sozinha, nua de alma, bocejando e revelando-se a mais indefesa, mas pronta pra devorar quem a cutucar com vara curta. Toda a calma e paciência do mundo é pouco pra um primeiro contato. É provável que esteja sendo observado desde o momento que chegara ao local. Mulheres têm visão 360 graus. Momento certo é ratificado com o 'oi'. 'Oi' é o anfitrião das declarações de amor.

Não peço licença pra entrar na vida de ninguém. Meu plano é ser espalhafatoso, porque quem chega de mansinho é condenado ao esquecimento. Não passo em branco. Sou folha rabiscada. Corro o risco do vexame pra descambar em furor. Não me permito ser mais um. Padeço da simplicidade, e ela me aponta a direção. Mexe com os cabelos, ajeita o vestido. Ela gargalha. A gargalhada da mulher é a oração em voz alta do homem. É a comunhão dos poros. O momento que ela fraqueja, derrete-se e se abre por dentro. A mulher quando gargalha, escancara o homem. Faz parte do espetáculo.

O encontro é o àpice. Não pode falhar. Que vá desde o local perfeito até o tiro certo em seu prato ou música prediletos. No restaurante, eu a conduzo de forma afrodisíaca. Na boate ela me guia no molejo do meu quadril enferrujado. Ambos se testam em um jogo de mímica. A percepção fala pelos dois. As nuances são mais barulhentas que a música. Os olhos, mais apetitosos que o sushi. E então perdemos o controle, e nossos cálculos vão para o espaço.

O traquejo do momento tira o norte de qualquer estratégia. Faz mais: Dilacera todo amor teórico.

Decerto não ser posssível calcular o grau da paixão através de estratégias. Não há quem consiga. Todo plano no amor é furada. Não existe 'amor gêmeo', e o que equivaleu pra um pode sucumbir pra outro. Qual a teoria para o primeiro beijo? Planos todos nós temos. Até certo momento. Dali em diante, quem toma a frente é o calor do momento, e aí o buraco é mais embaixo.

Perfeição é a antítese do amor. Se o teu amor é perfeito, alguma coisa está errada. Ou encenada. Desisti da busca pelo amor estudado e encantado, e me insinuei para as oportunidades que esbarram comigo na esquina, de supetão, tão imperfeitas quanto humanas.

Passei vergonha nas matinês. Mas aprendi: Pode até haver estratégia no amor, desde que sejamos as cobaias.

Não consegui rasgar aquele papel.

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