Por que?

Esses dias, assisti a um filme de Eduardo Coutinho que mescla realidade e ficção. “Jogo em cena” é composto de um cenário simples, mas de histórias complexas narradas por mulheres. Uma delas fala a respeito de seu filho que foi assassinado aos 19 anos por reagir a um assalto e desabafa: Deus é bom, mas não comigo.

Sua fé quebrou no dia em que o divino lhe negou seu pedido mais desesperado. Não ressuscitou o filho e ainda a deixou sem explicações. A mulher crê tanto em Deus que se revoltou diretamente contra Ele, como se fosse um vizinho, simplesmente porque o Ser Supremo não justificou a morte de seu filho. Ele se manteve em silêncio, não lhe confortou com palavras ou sinais... Nada.

Ter fé, em grande parte, é a prática de aceitar os fatos sem a possibilidade de conhecer os motivos. Entretanto, isso bate de frente com a necessidade louca dos homens de encontrar razões para tudo. As pessoas pensam no passado muitas vezes somente com o objetivo de definir um sentido.

Fulana precisou perder o pai para criar responsabilidade. Siclano teve a perna amputada, porém, a médica que cuidou dele é hoje sua esposa. Olha que bonito! Boas conseqüências ajudam a diminuir o peso de causas sofridas. Por isso, procuramos associações, não importa se elas soam absurdas... Para a maioria das pessoas, tudo é válido para que a vida não seja uma infinitude de acontecimentos soltos, de acasos vazios.

Admitir que alguns episódios se desenrolam por razão nenhuma e ponto final é ríspido demais. Para a mulher no filme de Coutinho, chega a ser cruel. Deus não é bom com ela precisamente porque lhe falhou com o MOTIVO. Por que interromper uma felicidade intensa (é assim que ela lembra) justamente com o único obstáculo que é indesviável, que bate na cara de qualquer um com a mensagem “é assim, e pronto. Morreu, ta morto!”?