Dê sua cara a tapas

Escolhemos, muitas vezes, esconder o que sentimos. É lamentável que, na relação que temos com os outros, a maior parte de nossas ações faça parte de um jogo de intenções, medo, cálculos, manipulação, disfarce.

Levante a mão quem nunca deixou de ceder a um simples desejo de ligar para quem nos domina o pensamento, por pensar na terrível sensação de estar se expondo. Jogue a primeira pedra quem jamais bloqueou a espontaneidade quando teve na ponta da língua uma declaração de carinho.

Nosso maior pânico, ultimamente, parece ser o de se deixar vulnerável diante de outra pessoa. Como se a rejeição matasse com a pior das dores. Mas esquecemos que tortura mesmo é a sensação de não se arriscar por algo que sentimos valer a pena. Assim, vamos nos privando da riqueza inerente a todas as experiências, mesmo aquelas que não se concretizam conforme nossos planos.

Um pedido de desculpas, um simples sorriso, um presente fora de época. Seja o que for, tenho pensado que a maior das liberdades é abrir o peito e dar a cara a tapas, ao menos uma vez por dia, para quem consideramos especiais, sem nos preocuparmos além do necessário se os sentimentos são recíprocos.

Falta, para muita gente, descobrir que a adrenalina de estar se arriscando é grande parte da sensação real de viver. Que é possível ganhar surpresas agradáveis até mesmo diante das situações que nos causam pânico. Que é infinitamente menos estressante fazer parte de um jogo limpo de emoções e vontades, do que ter a constante necessidade de vigiar-se diante do próximo.

Talvez seja difícil manter a disposição de ser aberto às experiências, sem pensar tanto nas consequências. Principalmente porque alguns momentos realmente maltratam o ser humano. Porém, creio ser muito mais angustiante a decisão de esconder-se eternamente por trás de muros incontornáveis... Assim, ninguém jamais vai te conhecer de verdade, nem você vai explorar a vida por completo.