Vou-me embora para Pasárgada. Lá, sou amiga do Rei.

A vida em um resort é quase como o que imagino ter sido a de um faraó. Mais um pouco e você teria um servo seminu a seu lado te abanando com um gigante leque de plumas. É literalmente a filosofia de sombra e água fresca, um mundo onde seu maior dilema é decidir entre mar e piscina, lagosta e camarão, piña colada e cosmopolitan.

Um contexto de alegrias, como talvez ocorreria em uma utópica terra comunista com divisão de mordomias. Pode ser que você não se acostume com o travesseiro e sinta falta de um armário com mais roupas. No entanto, tirando a leve hierarquia de suítes e a sutil diferença de tratamento entre “gorjeteiros” e mãos de vaca, em resorts, todo hóspede é rei ou, ao menos, amigo de um.

A mágica deste negócio é que se paga antes pelo “tudo incluído”. Daqui que você pise no paraíso das cinco estrelas, já terá esquecido a dor na poupança. O cérebro interpreta os consumos como presentes, maquia seus produtos com o brilho do gratuito. E se você ainda consegue fugir do pacote pré-adquirido, também só precisa arcar depois com os custos – basta entregar ao vendedor o número do seu quarto (não da sua conta).

Quando não há que se coçar o bolso na hora das compras, raramente lembra-se de fazer somas. Portanto, você gasta, gasta, faz o dinheiro rolar solto do jeito que o Capitalismo ama. E quem é que não se entrega em uma circunstância dessas, com funcionários por toda parte, treinados para serem só sorrisos? De algum jeito há sempre um que fala sua língua e entende seus sinais o suficiente para saciar seus desejos, entregá-los de bandeja.

Se o resort ainda fica no México e você é brasileiro(a), leve sua coroa, porque a sensação realmente é de ser da corte, ou, no mínimo, pop star. Por onde se passa, alguém reconhece o português sendo falado, grita “Brasil!”, oferece drink, petisco, carona, desconto, e puxa papo sobre calor, futebol, fio dental e samba.

O problema é que o tempo não para nem se alonga quando se está na vida boa. Uma hora tem que ser o seu momento de re-arrumar as malas, fazer o check-out... acertar as contas! Para os que se mantiveram no “tudo incluído” (acredite, é difícil e raro), o aperto no coração é apenas por ser forçado a abdicar do trono.

A dor só é mais aguda para quem ultrapassou a linha do pré-pago no consumo. Além de perder a coroa, ainda há que abrir a carteira e sentir a mini-falência que chega por ter gasto insanos 150 dólares só em fotos com golfinhos, além de outras tantas fortuninhas investidas em artefatos, presentes, excursões. Nessas horas, ser brasileiro é desvantagem, considerando que o valor final da dívida pesa quase o dobro em modestos reais.

Então, você chega em casa. Rico de lembranças e histórias, pobre na poupança, mais gordo na pança. Começa a dieta, volta ao trabalho, redescobre como não ser uma Very Important Person. É que quando se deixa Pasárgada, perde-se o privilégio de ser amigo do rei. No mundo de verdade, aceite... você é plebe.