ADVOGANDO O LUXO

Já vi saindo de dentro de uma bolsa Chanel muita dignidade.

Já vi saindo de uma bolsa de palha a falta de compreensão.

Presenciei mãos que usam luvas de pelica afagando com carinho.

Presenciei mãos calejadas espancando uma criança inocente.

Segui scarpins Louboutin que me levaram a caridade.

Segui tamancos de madeira que à leviandade me conduziram.

Conheci pulsos de Rolex que pensam no bem da coletividade.

Conheci pulsos descartáveis que exploram o trabalho dos menores.

Assisti me ultrapassar uma BMW que era exemplo de humildade.

Assisti me ultrapassar uma Van transportando tanto orgulho.

Senti a fragrância de um Dior que transpirava a fé e a esperança.

Senti o cheiro de um perfume que transpirava arrogância e mais nada.

Observei pescoços envoltos em Tiffany brilharem com decência.

Observei Pescoços envoltos em miçangas usando o próximo para brilharem.

Percebi uma mala Louis Vuitton embarcando na direção da retidão.

Percebi uma mala indo na direção que melhor lhe convém.

Encontrei ternos Armani abraçando os familiares com devoção.

Encontrei ternos virando as costas com vergonha dos genitores.

Memorizei contratos à Montblanc que beneficiaram várias famílias.

Memorizei contratos à caneta que ilícitos só se beneficiaram.

Bailei ao lado de um vestido Valentino que era pura meiguice.

Bailei ao lado de um vestido que esnobou a costura da própria mãe.

Hospedei-me numa mansão onde a compaixão era prática diária.

Hospedei-me num casebre que vivia em discórdia e desunião.

Li a alegria num postal de um safári na África e dois meses de Missão.

Li o lamento num postal de um retorno sem um tostão do sonho americano.

Compreendi que aura que brilha intensa reflete a luz que vem de dentro.

Compreendi que aura que está opaca precisa acender a luz do coração.

Lilia Costa
Enviado por Lilia Costa em 28/07/2011
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