SONHOS

Já se discorreu muito sobre o sonho e ninguém, realmente, explica esse fenômeno.
Pra mim, o único cara que tem a chave do mistério é Morfeu, o que não é nada de estranhar, pois ele é o Deus dos sonhos. Diz-se, aliás, que é ele próprio que representa todos os personagens que desfilam ante nossos olhos cerrados.
Bem, de brincadeirinha ou maldosamente, ele responde tanto pelos sonhos eróticos, como pelos terríveis pesadelos, que nos fazem acordar com gelados suores e coração na boca.
Há dezenas de livros interpretativos do que sonhamos, mas seus conceitos - não raro até conflitantes - agradam a algumas pessoas e nada dizem a tantas outras, mesmo porque Morfeu não é besta de entregar a chave do cofre a qualquer um!
A turma da meia-idade, como eu, teve oportunidade de ouvir um monte de deduções que ligavam sonhos com sapatos à morte; arroz à prosperidade; dente, também à morte : abacate= bom agouro: abacaxi= contrariedades: dados=herança, e - acredite - vai haver diversas citações dessas em cada uma das letras do alfabeto!

Eu sonho todos os dias e lembro muito bem dos acontecimentos. A minha médica cardiologista, amor de criatura, me receitou um remedinho para atenuar uns chiliques que o velho coração estava tendo quando eu dormia, Ela riu quando eu lhe disse que aquelas pílulas eram eróticas, pois passei a sonhar constantemente que estava de namoro forte, arrebatado, quente, com a Claudia Raia ou com a Bruna Lombardi ou Maité Proença ou Ana Paula Arósio, mas isso realmente acontecia e eu até que me sentia extremamente bem e passei a cuidar melhor dos meus cabelos e a andar com vaidoso garbo!
Sonho muito, também, que sei voar - como o endiabrado Peter Pan - começando a um metro de altura para, depois, me arriscar a maiores altitudes, mas em dado momento ( e aí a coisa vira pesadelo) lá no alto, me dá uma enorme dúvida: "e se, de repente, eu desaprender e entrar em parafuso? Bem, aí, eu que não sou bobo, simplesmente acordo.
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O João Ubaldo Ribeiro, imortal, cronista com todas as letras maiúsculas, se dignou comentar um trabalho meu! Pode?
Li-o com atenção, mais do que merecida, e o meu ego foi tão massageado que deve estar maravilhosamente dolorido até hoje.
Porém, como diz o velho adágio; pobre quando vê esmola grande desconfia, resolví não acreditar, mas, por via das dúvidas respondi agradecendo.

"Meu amigo Ubaldo, sou seu assíduo leitor e fico muito brabo com suas férias, período em que (me desculpem os outros grandes - Luis Fernando Veríssimo, Ancelmo Góes) perco a vontade de abrir o jornal. Questão de empatia!
Saiba que eu não acreditaria, mesmo que esbarrasse com você saindo do bar de Espanha, tendo à sua esquerda (é claro) o audaz Zecamunista e do outro lado o Cuiuba ainda com o tatu pendurado na linha de pesca.
Provavelmente, você - educado que é - passaria por mim com um cumprimento cortês e seguiria em frente, de bermudas e sandálias arrastando as areias de Itaparica.
Agora, daí a comentar um despretensioso trabalho meu vai uma distância de légua de beiço!
Mesmo assim, amigo, fico-lhe (a você ou ao engraçadinho que escreveu o comentário) tão agradecido que hoje vou deixar as meninas em paz e dormir como um anjo."

Foi aí que eu acordei!



paulo rego
Enviado por paulo rego em 01/08/2011
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T3133413