Quero comida de verdade!

Em um desses momentos de epifania, concluí que estou de mal com as batatas fritas. Menos por uma questão de dieta e mais porque enjoei um pouco desse frisson canadense do fast food. Declaro, então, uma rejeição momentânea às delícias norte-americanas mergulhadas em óleo quente.

Culpo essa rebeldia, em parte, à minha abstinência da comida brasileira ou do modo brasileiro de comer fora. Lá, na terra onde o sabiá canta em palmeiras, existe uma retenção do excesso, um singelo “não” aos copos mirabolantes de refrigerante com direito a refis infinitos. O que resulta, automaticamente, em um ambiente mais simpático ao saudável – ou, ao menos, algo que não force tanto a expansão do estômago.

O outro reforço ao meu protesto contra frituras e porções gigantes veio em assistir “Rio”. Não que o filme mostre muito da alimentação, já que o foco está nas aves, cores e Carnaval. Mas só de olhar aquele cenário carioca exuberante, cheio de simplicidade e ginga, quase pude sentir de novo o prazer de beber um suco de verdade, natural. Nada de limonada rosa.

“Rio” aumentou minha saudade dos restaurantes self-service, do feijão com arroz prático e barato. Deixou em mim a vontade de pisar em uma praça de alimentação, em qualquer shopping, e ver que é mais negócio encher a pança de comida “caseira” – uma feijoada esperta, suflê de batata baroa, farofa – do que apelar aos combos Mc Donianos.

No entanto, romper com as batatas fritas, aqui no Canadá, significa cortar do cardápio a maioria dos recintos mais populares. Além de forçar você a pagar mais caro para comer saudavelmente na rua ou se preparar para o supermercado. É por essas e outras complicações que a maioria das almas se enfraquece quando se depara com a praticidade “em conta” de Burguer King e seus primos gordurosos. Mas não eu! Não mais (pelo menos por agora)!

Sinto que essa minha intriga com as batatas fritas é o jeito que meu corpo arrumou de dizer que sente falta de ser mais brasileiro. Pedindo água de coco em vez de Pepsi ou, para resumir, implorando por um cenário sem tanta comida enlatada, industrializada, pronta para o microondas.

Estou de mal com as french fries porque, mesmo pensando em me estragar com delícias, ultimamente sonho em fazer isso de um jeito mais moleque. Comprar aquele podrão na barraca da esquina, me acabar com petiscos em um quiosque na beira da praia. Um modo de reforçar meus valores de infância. Nada de sanduíche gigante querendo ser chique. E se é para ser fritura, meu estômago é categório: só aceito se for coxinha!