O fantasma da solidão

Porque temi a solidão, já recorri para os braços de quem tantas vezes admiti não ser a pessoa certa. Fingi sorrisos a seu lado na esperança de que um dia as risadas me convencessem ser sinceras. Declarei como amor a possessividade, o ciúme, e outros sentimentos tão adversos.

Adaptar-me a uma separação já foi tão difícil, que preferi voltar atrás a ter que encarar o futuro. Aquele adeus havia deixado um vazio que interpretei como saudade, mas na verdade era pânico de não existir outra pessoa para mim no mundo. Pensei que seria um conforto retomar meu relacionamento, no entanto, o alívio foi somente imediato. O que veio novamente foi o mesmo “amor” fracassado.

Com o tempo aprendi que abrigar-se em uma história já vivida, desgastada, é a escolha de permanecer em um ciclo vicioso. Seus frutos serão sempre os mesmos reinícios cheios de falsa esperança, seguidos de frustrações e novos fins tumultuosos.

Recorrer ao que só fez sentido pleno no passado te coloca sobre um alicerce instável cujo desabamento é inevitável. Significa sua decisão de insistir no erro e se acomodar na infelicidade, como se você não fosse digno de merecer mais do destino.

É inerente a todo adeus um processo de renovação que dá medo, porque ele traz consigo o fantasma da solidão. Mas a verdade é que essa é uma fase de novos desafios. E não existe essa de que “quem já viveu acompanhado não sabe mais viver sozinho”! É loucura aceitar ser impossível redescobrir os prazeres da própria individualidade.

Quanto mais longa e complexa tenha sido a relação que precisou morrer, maior também será a dificuldade de exorcizar a antiga rotina. Fato. Mas quando você abre os olhos, realmente tenta ver o mundo, enxergará nele um mar de caminhos alternativos, talvez menos óbvios e mais árduos do que a facilidade de retomar o passado familiar, no entanto, eles podem reservar para ti algo de fantástico.

Negar-se a explorar essas novas possibilidades é um ato de covardia consigo mesmo.