APENAS UM TOQUE

POdem me chamar de Jurássica, nem ligo! Mesmo porque, os dinossauros, são tão lindinhos!

Ainda não consigo lidar com intimidade com nenhum celular. Nem tenho um ainda. Treino aos poucos com os telemóveis de meus filhos, para desespero deles. Na dúvida, aperto todas as teclas: com certeza, alguma servirá. Consigo, com rapidez desconfigurar todo o aparelho. MAs, vou tentando, sem pressa. Inevitavelmente nos tornaremos íntimos um dia.

MAs, convenhamos, que esses aparelhinhos, por horas essenciais ( eu que o diga, quando os filhotes estão pela rua !), tem momentos e situações que são simplesmente irritantes, incovenientes, pra não dizer abomináveis.

Façamos uma pequena viagem juntos: Oito horas da manhã, preciso ir ao Centro da cidade, a distancia me sugere que vá de "frescão": poltrona reclinável, ar condicionado, música ambiente, 40 minutos ou mais de soninho gostoso! Lêdo engano: NA poltrona anterior acomoda-se um senhor, já com seu aparelho em punho, tratando da sua vida, e eu mesmo que não quizesse, participei de sua vida por longos 30 minutos da viagem: Fiquei ciente que ele era um agente de viagens, e que os pacotes que ele oferecia, estavam todos esgotados( que bom pra ele), o senhor agente, tambem fazia roteiros interessantes, como numa cidadezinha de nome São Tomé das Letras ( me interessou), para Cachambi, JAcutinga, Tiririca da Serra, e tambem pros quintos ( essa por minha conta), o que mais achei interessante, é que após 30 minutos de conversa, percebí que do outro lado do aparelhinho, estava o cliente com o quel ele estava indo se encontrar. Que MAravilha! Dormir eu não poderia mais, o tempo não permitiria, nem a passageira da poltrona posterior, que passava pra empregada todas as tarefas do dia, detalhe: que ela já havia passado antes de sair de casa, segundo ela mesma. Vejam: " Querida, por favor, as instruções estão todas aí pregadas na geladeira. Capricha , ok? Se fulano ligar, diga que estou no celular ( Como assim?)

ah tá! Isso está parecendo texto de Stand Up comedy, mas o assunto é sério!

Finalmente, chego no meu destino. Arranco os fones de ouvidos, das orelhinhas da filhota, pra mostrá-la a Biblioteca NAcional ou o Teatro Municipal, em vão, seus dedinho ágeis, estão teclando com alguma coleguinha. DEsisto. Turismo numa terça-feira no centro da cidade, só coisa minha mesmo!

REsolvidas as questões burocráticas, já despreocupada, e um tanto desestressada, passeio pelas ruas do centro, matando saudades, do tempo em que tudo alí me era íntimo.A 7 de Setembro, continua alí, apertada. A Livraria Saraiva tambem. A Rua do Ouvidor, onde toda vez que passava, me vinha à mente Elis cantando "Um Deus negro do Congo ou daqui". Não ouço mais a Elis, e me parece que ninguem mais ouve a Ouvidor: seus camelôs, suas ofertas. Estão todos ouvindo apenas seus celulares. Tem sempre alguem gesticulando para o nada, rindo sozinho, com dor de ouvido ou braços amputados. Isso!Pare numa rua bem movimentada, e observe como se tem a impressão que a cidade foi acometida com uma epidemia estranha. Estão todos apenas com um braço em movimento, o outro com certeza, está segurando o celular ao pé do ouvido. Muito estranho!

Enfim, retorno à minha pacata cidadezinha ( hummmm), e enfrento mais uma fila bancária, dessas, que por Lei não deveríamos passar mais de 20 minutos. Entramos. Eu tranquilamente, e qual a minha surpresa quando a filhota tambem passa tranquila, armada de seu inseparável amiguinho. E nada da porta travar. Claro, o guarda percebeu que ela era apenas uma linda e inocente adolescente. Que bom ! Livres, fomos á fila!Aproveito o momento pra abraçar a filhota, acariciar e falar bobagens baixinho no pé do ouvido. Eis, que derepente um jovem toma o lugar, alí, bem atrás de mim, fazendo o que? Falando ao celular. em alto e bom som, contando ao amigo, que estava desempregado, que ia por a empresa na justiça, aproveitou a pediu o endereço da empresa ao amigo, empresa essa em que ele trabalhara por dois longos anos. Aff! MAs, para minha surpresa, o acompanhante desse jovem, simplesmente se cansa de esperar, e sai do banco, deixando-o só com seu aparelho suspeito. E leio no cartaz bem em frente à fila : PROIBIDO O USO DE APARELHOS CELULARES NO INTERIOR DESTE ESTABELECIMENTO".

Como assim, proibido? Contei dez pessoas na fila, falando ao celular. onde, pelo menos uma, era segurança do banco. Estarei enlouquecendo? Imediatamente minha síndrome do PAnico entra em atividade, e todos os celulares me parecem suspeitos, com suas musiquinhas codificadas, seus donos e sons monosilábicos . Pego meus caraminguás, disfarço e saio em disparada, rumo ao aconchego de meu lar, longe dos "seres lunáticos", e seus celulares. Em casa, descanso e me acalmo, quamdo meu bom e amado telefone fixo toca "_ Mãe? Estou te levando um presente, já estou chegando, to pertinho ok?" Ok filhão, mas como vem com presente, eu perdoo o fato de voce estar vindo, estar chegando e estar ligando.

Porta abre, filho entra, presente nas mãos. Advinhem o que era?

Alguem quer o número?