“MEDO DO INFERNO”

Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.

(Salmos 9 : 17).

Mandará o filho do Homem os seus anjos, e eles ajuntarão do seu reino todos os que servem de tropeço, e os que praticam iniqüidade, e lançá-los na fornalha de fogo, ali haverá choro e ranger de dentes (Mateus-13)

Imagine seu corpo queimando como tocha, permanentemente por todo sempre. Tudo isso acompanhado de personalidades malignas, aterrorizadoras. Esse é o destino final dos pecadores, que não se redimiram de suas faltas em tempo, passando para outra vida em estado de pecado mortal. Passei minha infância e adolescência atormentado por essa possibilidade. Minha mãe, católica convicta, incutiu em nós, seus filhos, a figura do demônio e dos riscos de seu domínio sobre as pessoas.

Contava ela que um senhor muito rico, morador de nossa cidade. Na juventude tinha feito um pacto com o Diabo: “se o senhor das trevas desse a ele uma vida de rico, quando morresse não incomodaria de ir para inferno em sua companhia. Passados muitos anos, já bastante rico e velho deparou-se com a figura demoníaca em uma de suas fábricas. Na ocasião, este senhor estava sozinho, pois o expediente fabril já havia terminado. O “dito cujo” viera cobrar sua dívida. O diabo tinha cumprido a parte dele, faltava agora a sua parte do trato. Ele tentou argumentar, dizendo que daria parte da riqueza em troca de sua liberdade, a resposta foi negativa. Assim o velho milionário foi levado para as profundezas do inferno sem nenhuma parcimônia. Pois, nem seu corpo foi encontrado depois daquele fatídico dia. Obviamente trata-se de um folclore local. Portanto, uma estória inverídica.

No entanto, passei minha infância e adolescência, preocupado com o “pós mortem”. Momentos de angústia, apavorado com a possibilidade de morrer em pecado mortal sem ser absolvido em confissão pelo padre. Muito de minhas inseguranças deve-se a minha juventude traumática. Certamente, entre elas, o medo do inferno contribuiu bastante. Talvez, se eu não tivesse passado por isso quando jovem seria hoje uma pessoa mais tranqüila e feliz. Por outro lado, tudo isso representou um freio para mim e para milhões de cristãos no mundo todo, evitando assim muitos desatinos.

A interpretação dos exegetas para essas passagens bíblicas tem rendido muita discussão em todo mundo. Um tema bastante complexo que exige muita reflexão. Trata-se de citações claras que se repetem, tanto no velho quanto no novo testamento. Entretanto, são pensamentos humanos escritos por inspiração divina. Que refletem o momento cultural vivido no momento histórico da redação. Obviamente, não podendo ser interpretadas ao “pé da letra”.

Hoje, minha inteligência se recusa a aceitar penas eternas. Apesar de católico, para mim é extremamente difícil conceber a presença de um ser superior extremamente rancoroso, capaz de mandar alguém para um sofrimento sem fim. Pela experiência diária da vida, pode-se deduzir que o crescimento evolutivo exige disciplina e sofrimento, mas que essas dificuldades terminarão em algum momento. Portanto, o bom senso, leva-me definitivamente a não aceitar este dogma religioso.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 04/08/2011
Reeditado em 05/08/2011
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