Lar... doce lar?!

O primeiro soco de realidade quando se está em um país estrangeiro é procurar por um lugar onde viver e montar raízes. Para três amigas não-ricas, a aventura não inclui lindos palacetes, limpos, claros, amplos e decorados com os mais charmosos móveis. É uma experiência "mão na massa", cheia de lugares fedidos, sujos, apertados, sarjetinhas de banheiros escurecidos, cozinhas encardidas e utensílios re-re-re-reutilizados. Além de mil cálculos precisos a fim de decifrar o que cabe ou não no orçamento apertado.

Depois de alguns dias, nossa derrota foi aceitar que a escolha do cafofo não ocorreria com o critério “qual deles é nosso preferido”, mas com eliminatórias estilo “qual é o menos pior”. E se eu pensava que essa decisão, seguida do pagamento de primeiro e último aluguel, mais sermões do proprietário abusado, seria o maior dos pesadelos, minha opinião mudou rápido. Logo que abrimos a porta do lar, doce lar, notei que ruim mesmo, o fundo do poço, seria a hora da faxina.

Era uma vez unhas feitas, cabelos sedosos, pés descansados. O momento pedia ginásticas, malabarismos, levantamento de peso e coragem! Sim, porque o processo de limpeza inclui desvendar o podre estilo de vida do antigo morador. O que, neste caso, envolveu até poças de xixi de gato e outros dejetos mais ou menos humanos. Sem contar a alegria de descobrir insetos alienígenas por todos os cantos, cheios de patas, prontos para escalar nossos corpos e sugar nossas vidas.

O passo três pode ser resumido em esmola, furto e compras. Quando os amigos e os amigos dos amigos não podem ceder artigos de cama, mesa e banho, é inevitável pôr a mão no bolso e trazer para casa as necessidades do dia-a-dia. Exceto quando se trata de garfos e facas. Nestes casos, acho muito justificável pegar talheres emprestados de ostensivos restaurantes. Sem data de devolução, claro.