A vizinha

Na rua de cima, mora uma antiga conhecida. Antiga em todos os sentidos. Deve estar passando dos 80 anos. Fisicamente, o que mudou nela, desde a época em que a conheci, fazem mais de 50 anos, é que agora ela usa bengala. Teve uma fratura de perna, há algum tempo e, para evitar novos acidentes, usa-a como apoio nas caminhadas mais longas. Na verdade, ela lhe confere um certo charme.

Diria que ela é o espelho da mulher idosa que trabalhou muito e continua, pois ela é, acredito, a única pessoa que ainda engoma trabalhos de crochê, daquele jeitinho antigo, espichando, prendendo com alfinetes, deixando o trabalho simplesmente lindo.

O primeiro marido morreu de doença pulmonar, depois de longo período de sofrimento. O segundo, muito depressivo, suicidou-se. Isso já faz algum tempo. Agora decidiu que não casará novamente.

Não perde os bailes de terceira idade, por nada. Acompanha seu grupo sempre, inclusive quando vão a outras cidades, algumas bem distantes. Participa intensamente de todas as atividades que são oferecidas a esses grupos.

Recentemente comentei com uma pessoa da minha família, que vira visitando aquela conhecida, um familiar nosso que andava um tanto sumido. Soube então, que este familiar também enviuvara novamente e, que minha quase vizinha, o convidava freqüentemente para “tomar chimarrão”. A senhora em questão está namorando um amigo de outra cidade, mas diz que ele é muito “parado”, muito quieto. E ela quer namorar em todos e com todos os sentidos.

Ela está errada? Quem sou eu para julgar. O interessante é que seus companheiros de grupo, não a condenam. Acham graça. Grandes mudanças nos conceitos.

Depois de ter lido tanta amargura, tanto azedume, relacionados ao passar do tempo de cada um, da idade avançada, lá no mural do maisde50, pensei que deveria falar um pouco dessa conhecida. Ser infeliz, não é uma questão de contexto, tampouco de idade, é uma questão de personalidade.