Como confessar isso ao mundo?

Há verdades que eu custo a verbalizar, porque elas vêm com uma bagagem muito pesada. Fazem parte dos discursos amargos que omito quando alguém me pergunta se está tudo bem.

Minha impressão é de que liberar essas palavras pelo mundo tornaria insuportavelmente mais real a realidade que estou renegando. Por isso condeno esses pensamentos ao silêncio como uma tática de pânico para fugir dos meus terrores.

As verdades que não admito guardam em si a denúncia dos meus sonhos mortos. Elas narram os pequenos erros que cometi ao longo dos anos e que me trouxeram para esse presente tão... estagnado.

Ao guardar esses meus segredos negros, tento sufocar também minha frustração. É como cobrir com panos todos os espelhos para jamais correr o risco de enxergar no reflexo quem eu realmente sou.

Essas verdades que eu escondo são a minha humilhação, o atestado de cada objetivo que não conquistei. E se elas não saem pela minha boca é porque meu corpo, em instinto de sobrevivência, se recusa a lutar contra mim.

O testemunho que eu calo me diria do passado em que eu ainda acreditava no meu potencial de transformar o mundo, tocar vidas, desvendar histórias incríveis e escrevê-las para o público. Ele esfregaria na minha cara que venho atravessando os anos de forma dormente, esperando o dia no qual eu poderia começar a fazer a diferença.

A cruel verdade que eu não digo é o quanto me sinto pequena, insignificante, vivendo cada vez mais abaixo das expectativas. Medíocre sim, por não ter a energia de mudar meu próprio rumo e escapar dessa rotina maldita que me mata pouco a pouco.

A acidez de não ter conquistas, de viver a narrativa do “quase”, de afogar meus ideais dentro de mim com as lágrimas que eu não choro. Como confessar isso ao mundo?