O DRAMA DA VIDA A PÚBLICA II

A PRIMEIRA DAMA

Aquele que duvidou que Zaqueu chegasse ao poder, se enganou e teve de engolir a seco. Eleito prefeito, passou a formar sua equipe de assessores. Só com os puxasacos, é claro. A hierarquia precisava ser composta. Isso lhe facultava a Lei.

Viruslândia era uma cidade pacata. Uma avenida que a cortava ao meio, la-deada pelo comércio e alguns precários serviços ainda mantidos pela comunidade. Emprego? Só mesmo na Prefeitura e alguns biscates aqui e ali, que poucos ainda se sujeitavam a fazer — e nada mais.

E lá estava o mais novo marajá do país. Sentado no trono que ganhara no último sufrágio eleitoral, de portas abertas, concedendo audiência a todo mundo: dava remédios, botinas, promovia facilidades aos desejados passeios do eleitorado, ultrasom gratuito, ligaduras, ônibus para o futebol e aos fanáticos religiosos. E entre outras mordomias, para alguns, dava até um dinheirinho para a cachaça. Os cabos eleitorais o aplaudiam.

— Agora sim Viruslândia vai à frente!

Estava indo tudo muito bem: na Câmara tinha a maioria, tinha dinheiro em caixa deixado pelo antecessor; já havia comprado até uma casa pra morar, (cuja frente era mais movimentada do que porta de meleiro); e um carro novo para realizar seu grande sonho: freqüentar todos os bordéis das redondezas. Para fazer isso teve que dividir dinheiro com alguns assessores, que também entraram no negócio, pois precisavam se arrumar na vida. Gente besta, já morreu.

Mas Zaqueu tinha uma bomba nas mãos. E que problema! Tinha duas espo-sas. Quem seria a primeira dama? Nessa, ele ficou mais atrapalhado que albatroz no pouso. Ele coçou a cabeça quando seu assessor lhe disse que devia informar à es-posa do governador o nome da felizarda. Ele precisava decidir quem seria a primeira dama de uma vez. Viruslândia não podia ficar sem primeira dama. Todos os outros municípios tinham. Optar por uma delas dava ciúmes na outra e poria tudo a perder. Ele era mesmo apaixonado por ambas.

Dias depois veio ele com a feliz decisão, e disse ao assessor:

— Informe à esposa do governador que a primeira dama de Viruslândia é mesmo a Maria. . . e a segunda dama é a Tonha. Se ela pedir explicações, diga que um governante prevenido vale por dois.

— Mas prefeito, — chamou-lhe a atenção o secretário — isso é bigamia, e o Ministério Público poderá prendê-lo.

— Bobagem! — retrucou ele. — Você já viu um prefeito preso?

Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 09/08/2011
Reeditado em 09/08/2011
Código do texto: T3148430
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