A gente mesmo, demais

- O senhor sabe o que é o silêncio? É a gente mesmo, demais.

(fala do jagunço Riobaldo em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa)

Não parece haver busca mais compensadora na vida do que a do autoconhecimento. Conhece-te a ti mesmo, disse Sócrates, e quase toda a filosofia se dá a partir desse desejo que temos de reduzirmos nossa ignorância acerca de quem somos. Mas como pode, ao mesmo tempo, ser tão frustrante, ao ponto de ser perigoso, conhecer a si mesmo?

As poucas certezas que acumulamos tendem a ser pouco complacentes com o nosso projeto de vida. E não sermos o que achamos que seríamos talvez seja esse um dos grandes causadores das nossas maiores e mais verdadeiras tristezas.

Temos defeitos demais, erramos demais e nossas escolhas raramente estão certas. Temos todos os motivos possíveis para passar a vida arrependidos, se assim quisermos. E ainda passamos boa parte da juventude sob o pensamento de que éramos feitos somente para experimentar grandes coisas. Mas somos absurdamente comuns, e não é nada fácil se acostumar a isso.

A busca por conhecer a si mesmo é um prato cheio para o julgamento apressado, que impede uma proximidade maior da compreensão, que por sua vez seria um grande passo para nos tornarmos um pouco melhores. Mas, como já escrevi aqui, julgar é mais rápido e mais fácil - e por isso mais tentador - do que compreender. E o pouco que julgamos saber de nós mesmos se perde em uma série de conceitos equivocados.

É um tanto quanto irônico, mas nosso maior objetivo pode levar ao mais profundo abismo. O autoconhecimento, verdadeiro, é difícil de encarar. Que ele venha sempre fantasiado com belas máscaras parece até melhor.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 09/08/2011
Reeditado em 09/08/2011
Código do texto: T3149287