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MANHÃ DE AGOSTO

                     
Fogão aceso, panelas fumegando
                         estranho ruflar de asas-
                         pobre ave perdida!

 

Início de manhã como todas as manhãs : acordar antes do sol, pôr a mesa para o café, preparar abacaxi, morangos e mamão para lanche dos netos. Olhar o horizonte, sentir a presença de Deus no amanhecer de mais um dia e agradecer pela vida.Mas hoje é terça-feira, o que muda um pouco a rotina: separar o lixo reciclável, colocar os jornais da semana em sacola para serem recolhidos pelos garis.

Casa arrumada,"menu" do almoço escolhido.

Coloco algumas roupas na máquina e início a tarefa: fogão aceso, panelas fumegando.

De repente, um insólito barulho me assuta. Parece um bater de asas ou talvez alguém mexendo em pápéis. Olho em volta, olho pro alto, nada vejo. Volto a mexer a panela de carne picadinha que, com cuidado, douro para estrogonofe. 

Novamente o barulho. Penso sozinha: deve ser a faxineira apanhando a sacola de jornais ou algum serviço que está sendo feito no andar de cima.Prédio de apartamento é assim: nunca se sabe de onde vem o barulho.

Continuo tranquila   o meu prosaico trabalho. Mas eis que surge uma pobre ave perdida, sem rumo, amedrontada(a presença dos humanos sempre causa pavor aos animais). Começa a luta: captura difícil. Ela voa mudando sempre de lugar.

Apago o fogão e saio da cozinha para deixá-la mais sossegada.

Enfim bate no vidro da janela e cai.Finda a luta, com a pobre ave caída e vencida, não sei se pelo  medo ou pela ânsia de liberdade.

Que felicidade!

É capturada e devolvida à bela  e azul manhã de agosto. Por ser a nossa protagonista um sabiá, deve estar agora, no alto de alguma laranjeira, cantando:" Piedade, Senhor, piedade , Senhor!"

 A mim resta agora continuar o preparo do almoço, sem ser mais assustada pelo estranho ruflar de asas.