A poesia da tristeza acabou

Os ponteiros dos relógios se arrastam para os que lamentam. Tornam tão eterno cada segundo de dor.

Mas a poesia da tristeza acaba aí.

A realidade é que o mundo não para em respeito ao luto, nem se transforma em versões que facilitam o sofrimento. Suas lágrimas não virão reforçadas por um dia chuvoso e trilhas sonoras que inspiram seu choro. Certamente não haverá pausas para que você recupere o fôlego. E o resto da sociedade seguirá em ritmo habitual.

Seu lamento não dará fim ao Carnaval, tampouco impedirá que o sol brilhe e os pássaros cantem. A caixa de som do seu vizinho continuará a tocar forró. Tudo isso porque o universo é grande demais para girar ao seu redor, portanto, ele simplesmente não se importa. Esteja você no auge de uma tristeza mimada ou de um pranto que quebra o coração, o mundo não privilegia nenhuma dor.

Cada vez mais, o direito de consumir à exaustão o seu lamento é limitado. Logo o trabalho te chama para bater o ponto, o dia de pagar as contas vai chegando, e seus amigos decidirão que é hora de você retomar o ânimo.

Negar-se a voltar a rotina é um alerta para que te levem ao psiquiatra. Chorar na banheira é ser suicida. Ficar em casa é entregar-se a solidão. Sua dor será rapidamente batizada de depressão, mas combatida com excelente êxito por remédios que produzem alegria.

A realidade é que o mundo não para mesmo em respeito ao luto. Ultimamente, a solução que te impõem é fazer de conta que o lamento já passou. Acabou! Página nova! É isso aí! Produzir! Festejar! Consumir! Beber! Dançar! Beijar!

Chorar... jamais.