O DRAMA DA VIDA PÚBLICA III
ZAQUEU NO ANALISTA
Alienado pelos constantes falatórios pelas ruas de Viruslândia a respeito de suas cagadas, Zaqueu acabou ficando meio biruta.
A coisa não podia continuar daquele modo, senão acabaria enlouquecendo de vez. Ele tinha uma cidade para cuidar. Resolveu consultar seu assessor para assuntos aleatórios e obteve um inesperado conselho:
— Procure um analista! — disse-lhe o conselheiro — com uma dúzia de seções aca¬bará se recuperando.
— Você acha mesmo? — indagou Zaqueu um tanto avexado.
— Claro prefeito, analistas são feitos para esse tipo de coisa. Se o senhor se acha estressado, o analista dá jeito.
E lá foi ele para a cidade vizinha em busca da ajuda que precisava.
A recepcionista do consultório, comedida de praxe, precisava preencher a ficha, então lhe perguntou.
— Idade?
— Vinte e cinco — respondeu o bom prefeito.
— Estado civil?
— Casado.
— Nome da esposa?
— Precisa mesmo? — perguntou intrigado.
— Se não quiser, deixo esse item sem preencher.
— Maria e Tonha — informou.
Ainda bem que a moça entendeu mal e preencheu na ficha como Maria Antonia, e ficou por isso mesmo.
Terminada os entretantos, era hora de partir aos finalmentes, e ele entrou consultório à dentro.
— Boa noite! — disse-lhe o analista.
— Boa noite, doutor.
— Por que marcou consulta tarde da noite?
— Imagine se os adversários me virem num consultório psiquiátrico, o que vão dizer?
— Nada, eu acho. O padre faz análise, e ninguém fala dele.
— O padre! — exclamou Zaqueu.
— O juiz e o delegado também — disse o analista, furando a ética outra vez.
— Acha que estou doido como o padre, o juiz e o delegado? — perguntou Zaqueu, preocupado.
— Só depois de algumas sessões é que podaremos saber.
— Mas cite três motivos que tornem o homem um louco.
— Embora existam milhares de motivos, posso citar, por exemplo: ter mais que uma esposa; repartir dinheiro e vir ao analista.
— Então me interna, doutor. Sou louco varrido!