O DRAMA DA VIDA PÚBLICA IV
OS OVNIS
Zaqueu estava preocupado. Começava a faltar habitantes em Viruslândia e ele não conseguia saber o por que. Pediu para o delgado investigar, e nada. Ninguém conseguia des¬cobrir o motivo pelo qual sempre sumia alguém do município.
— É por causa da vaca louca! — dizia uns.
— Vai ver que são levados pelos discos voadores. — sugeriam outros.
Aliás, objetos voadores não identificados e fantasmas eram constantes em Viruslândia. Quando Zaqueu era ainda vereador até fez aprovar seu projeto para a construção de um discódromo e um fantasmódromo nos arredores da cidade, cujos neologismos explicavam-se como um aeroporto para receber discos voadores, e um refúgio para fantasmas, respectivamente; mas a caça aos fantasmas ele nunca permitiu.
A Secretaria Especial de Defesa dos Habitantes foi criada, exclusivamente, para cuidar do caso, pois o fato já esquentava a cabeça do Zaqueu. Já havia sumido mais de uma dúzia de eleitores certos, todos votos de cabresto, que certamente fariam falta posteriormente.
A Secretaria Especial de Defesa dos Habitantes funcionava a todo vapor, porém o secretário não era homem de muita prosa, e sim de poucos relatórios. E pelo fato de que Zaqueu nunca ia à Prefeitura, não ficou sabendo da contratação de um craque em discos voadores, coisa que havia solicitado ao secretário dias antes.
Naquele dia, em meio a grande confusão e eleitores querendo ajuda, Za-queu foi interrompido pela secretária. Umas dessas fresquinhas que não sabe de nada, mas faz sempre serão.
— Prefeito, tem um homem estranho ali fora querendo falar com o senhor.
— Qual o nome dele?
— Bond.
— Diz a ele que não precisamos de bonde nenhum. Estamos na era espacial e esse idiota quer me vender bonde! Mande-o vender rosquinhas, dá mais grana nesse início de século.
O senhor Bond era um sujeito elegante, falava com sotaque, vestia um casaco requintado, sapatos brilhantes, carregava uma valise 007 e fumava charutos cubanos. Parecia até aquele dos filmes da TV.
Depois de muito insistir o nobre cavalheiro conseguiu dobrar a secretária e entrar no gabinete do Zaqueu, sem mesmo precisar suborná-la.
— Quem é o senhor? — indagou Zaqueu, um pouco desconfiado. — Por acaso não é do Tribunal de Contas?
Zaqueu pensou assim porque não viu seu contador o dia todo, e sabia que o mesmo tinha verdadeira aversão pelo pessoal do Tribunal. Quando os auditores chegavam, ele sumia.
— Não, não. Não se preocupe. Meu nome é Bond: James Bond.
— Ah, sei!
Graças a Deus! O homem não era do Tribunal de Contas e Zaqueu ficou mais relaxado.
— O que faz nesse fim de mundo? — indagou Zaqueu depois que não conseguiu adivinhar...
— Foi o senhor quem me chamou.
— Eu? Eu não.
— Então foi alguém da sua confiança. Vim falar sobre os discos voadores — disse o cavalheiro quase que num cochicho.
Zaqueu levantou-se, foi até a porta, deu uma olhadela lá fora para certificar que não havia ninguém escutando, e voltou às falas.
— Quanto? — perguntou, esfregando o polegar no indicador, mas o senhor Bond não viu, apenas escutou.
— Pode-se dizer, que são muitos. . .
— Ah, diga logo homem, não faça mistérios.
— É melindroso, o senhor sabe. Precisamos agir em sigilo. E tem mais, eu venho de muito longe, o senhor sabe como é! E sobre discos voadores não é qualquer que conhece.
— Que sigilo que nada, já estou acostumado! Diga logo quanto me dá de comissão, que eu compro duas dúzias.