O DRAMA DA VIDA PÚBLICA V

ZAQUEU NO POSTO DE SAÚDE

Depois da morte do Baguá, Zaqueu sofreu uma decaída. Sugestionou-se, pois não acreditava que alguém como o Baguá pudesse ficar doente e morrer. Se o Baguá pode adoecer, ele também podia, e isso era ruim.

Começou então a sentir um leve mal estar, umas fisgadas e um estiramento no bucho; alguns dias até suava frio. Era hora de visitar o médico. Então foi Zaqueu até o Posto de Saúde, lá mesmo em Viruslândia, dia em que descobriu que havia filas em sua cidade. Passou por todo mundo, furou a fila e foi ter com o médico.

— Bom dia senhor Zaqueu, como passou essa noite? — indagou-lhe o bom médico.

— Pior do que a noite passada — respondeu ele.

— Tomou algum remédio?

— Tomei uns chás da dona Florzinha, mas me deu azia.

— Chá do que?

— De chifre de veado. Mas de nada valeu.

E o médico continuou com a entrevista, tentando descobrir a moléstia que atazanava a vida de Zaqueu.

— O senhor fuma?

— Fumo.

— Bebe?

— Bebo todas.

— E a vida sexual, como vai?

— Ela vai bem, lhe mandou lembranças.

O médico deu-lhe uma olhada severa e continuou.

— Quero dizer quanto ao seu vigor.

— Ah, doutor, tirando as duas senhoras que possuo, ainda faço alguns favores por fora, e nunca passei vergonha.

— E a Mariquinha, sua prima, como vai?

— A Mariquinha, eu tava tratando bem para tirar cria. . . Mas pulou a cerca. . . Deixei de lado.

E lá ficou o Zaqueu pelo resto do dia fazendo exames de laboratório, raio-x, ultrasom, endoscopia, toque, testes de tudo quanto é coisa. Quanto ao toque, dispensa comentários...

Entrementes, uma mocinha da periferia, menina dengosa, de olhos vivaldinos e ligeiros, novinha em folha, fogosa como potranca de cria, entrou no consultório do médico para fazer sua consulta habitual. Num rápido exame o velho doutor concluiu que a garota estava sofrendo do mal de parto.

— Quem é o pai? — perguntou-lhe o bom médico.

— Sei quem é, mas tenho medo de dizer, é gente fina!

— Temos que saber quem é o felizardo, pois preciso conhecer a história médica também do pai, para ter certeza que a criança não venha com problemas.

— Bem doutor, se é mesmo necessário eu digo: é o prefeito.

— O prefeito! — exclamou o velho ranzinza.

Já era tarde, e os funcionários do Posto de Saúde estavam todos indo embora, quando ficou pronta a bateria de exames do Zaqueu. Foi chamado até o consultório médico e sentou-se, preocupado.

— O que descobriu, doutor?

— Quanto a saúde está ótimo. Só descobri que o senhor vai ter um filho.

Zaqueu empalideceu. Rangeu os dentes que sobravam, quebrou metade do consultório, e enfurecido, voltou ao doutor.

— Não é possível! — disse.

— Claro que é possível.

— Tem certeza?

— Os exames não negam. Está tudo confirmado.

Ninguém sabe o que se passou pela cabeça do trouxa Zaqueu por longos dias, imaginando que fosse ter um filho. Só se conformou quando a moça trouxe-lhe a criança para pedir ajuda alimentícia.

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Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 12/08/2011
Reeditado em 12/08/2011
Código do texto: T3155052
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