O DRAMA DA VIDA PÚBLICA VII

ZAQUEU E A MÃE NADIH

Mudou-se para Viruslândia, a pedido do Prefeito Zaqueu, uma senhora muito distinta. Mãe Nadih tornou-se a vidente exclusiva da administração de Viruslândia. Dizia que nunca errara uma só previsão, deixando Zaqueu cada vez mais animado.

— Agora sim — dizia ele — ninguém mais me segura.

Mas o falatório em Viruslândia durava prá caralho sobre a nova aquisição do Prefeito. Os adversários estavam derriçados. Quando pensavam num revide para destronar Zaqueu, pimba: ele já sabia.

No jornaleco da cidade era só chacota. É claro: pertencia à oposição e seu editor jogava duro, mesmo nos acertos de Prefeito. E a presença de mãe Nadih ocupava sempre a primeira página, com todas as previsões sobre a prefeitura.

“Mãe Nadih prevê uma tormenta que arruinará todos os adversários de Zaqueu”! — dizia a manchete.

Dito e feito. No outro dia era só adversário se filiando no PDNA: o partido do Prefeito, e para quem quer saber, PDNA queria dizer: Partido Deus nos Acuda.

“Mãe Nadih afirma que há ouro no rio”! — dizia outra manchete, sensacionalista.

Pronto! Foi aquele correria. No outro dia a cidade amanheceu vazia. Estavam todos garimpando no riacho, logo atrás da zona.

E assim continuou mãe Nadih com suas previsões e causando o maior tumulto em Viruslândia, e ninguém mais fazia nada sem antes consultar a vidente. Quando ela previu que Zaqueu ia mesmo ser deputado, foi aquele quebra-quebra. Ninguém podia conceber aquilo.

Mas mãe Nadih tinha de sair logo da vida do tumultuado Zaqueu. A coisa não tinha mais graça, era só esperar a realização de tudo aquilo que ela havia previsto, e o prefeito estava descontente. Resolveu então despedir a vidente, pois não precisava mais dos seus serviços.

— Mãe Nadih! — disse ele, arrotando grosso — está dispensada do serviço público.

— A coisa não é bem assim — disse ela, atrevida como sempre — estou tendo uma visão de que o senhor vai gastar uma grana preta.

— Mas como? — indagou, interessado.

— Disse que não precisava mais de mim.

— Só mais esta vez.

— Não posso dizer.

A tormenta não veio e não havia ouro no rio. Nenhuma das visões da mulher se concretizou e Zaqueu ficou puto da cara. Não seria daquela vez que ela iria acertar.

Como era Zaqueu turrão e nervoso, deixou a conversa por isso mesmo e mãe Nadih foi embora. Como havia descoberto todas as maracutaias do próspero Zaqueu, a vidente extorquiu-lhe alguns milhares de dinheiro.

— Filha da puta! — exclamou Zaqueu. — A única previsão que deu certo foi contra mim.

Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 14/08/2011
Reeditado em 14/08/2011
Código do texto: T3158977
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