O DRAMA DA VIDA PÚBLICA VIII

GENTE IMPORTANTE É OUTRA COISA

O Zaqueu aquele prefeito desajustado, ditador de Viruslândia, sujeito questionável em tudo que fazia cujo cargo subiu-lhe à cabeça, achava, com certeza, que estava com os pés no chão. Queria as atenções só para ele.

Vivia zombando dos outros colegas que não conseguiam recursos, a cada dia ficava mais desagradável do que flato com eco em batizado. Pedante, entrão como porco faminto, mais burro que anu de beira de estrada, desconfiado como gato de beco, julgava que todo mundo era inferior a ele.

Esse era o Zaqueu. Porque era prefeito, pensava que fosse o Bicho do Paraná e sempre causava suas avarias por onde passava.

Naquele dia ele arranjou uma audiência com o velho governador: sujeito sisudo, polido como pedra rara, político sexagenário, carismático feito dono de seita e sério como santo de altar e mais arisco do que peixe de água limpa.

Zaqueu entrou no gabinete da velha raposa já enfurecido pela longa espera; botou o salto da bota sobre a mesa do baita e despencou a conversa.

Contou tintim-por-tintim da sua terra, pitou o charuto do homem, bebeu do café amargo e cuspiu no carpete. Fez tantas reivindicações, que o governador quase que renuncia.

— O senhor é até engraçado, prefeito! — disse-lhe o governador.

— Engraçado é carregar porco em elevador — revidou ele. — Diga logo se vai dar a ponte ao rio, que tenho coisa mais importante pra fazer.

— O senhor nem prestou contas dos bueiros, como vou dar-lhe outra coisa?

— É que usei o dinheiro dos bueiros pra comprar remédios para o povo.

— Mas o dinheiro era para os bueiros, não podia utilizar em outra coisa.

— Claro que usei. Naquela vez eu pedi remédios e o senhor me deu bueiros. E desta vez, o que vai dar no lugar da ponte?

— Nada! — respondeu o velho.

— Como nada? Esqueceu que o senhor fala com o prefeito mais importante do estado.

— Discordo — amansou a velha raposa — falo com prefeito importante todo dia.

— E daí?

— Daí! É que nenhum deles pensa que é importante.

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Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 15/08/2011
Reeditado em 15/08/2011
Código do texto: T3160716
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