EDUCAR É...DIFÍCIL!!!

EDUCAR É... DIFÍCIL!!!

José chega em casa, cansado, janta e vai direto pra cama dormir.Marilda, sua esposa aborda-o, com timidez... (ultimamente, José não liga mais para ela e nem para os filhos):

__Bem, ocê não vai drumi, não, pruque temo que cunversá...

Marilda é esposa esforçada, boa mãe, mas é muito tosca, nasceu numa cidadezinha do interior do Rio de Janeiro e, por isso, jamais se adaptou à vida da cidade. Seu casamento aconteceu por conta de uma visita que José fizera em sua cidade, onde a conheceu e se apaixonou perdidamente por aquela cabocla linda, analfabeta, mas que possuía os olhos mais lindos do mundo, além de um corpo escultural! Apesar de morar na cidade já há vários anos,nunca aprendeu as manhas de uma metrópole e, sem capacidade para gerir aquela família, agora, com três filhos, Marilda recorreu ao marido para que ele a ajudasse nessa lida...

__Marilda, meu amor, deixe pra amanhã esta conversa, estou muito cansado, hoje dei um duro danado... ( Marilda é analfabeta, mas não é burra) e, logo retruca:

__Duro danado, coisa niuma! hoji, inté liguei pru seu servício i mi dissero que ocê tinha saído pra armuçar e ainda, não tinha vortado e já estava atrasado em uma hora e meia...

__ É isso, mesmo, Marilda, eu estava tão cansado que acabei pegando no sono, num sofazinho lá da pensão!

__Vou fingi que arquedito, mas a nossa cunversa é as nossa criança...

__Que é que tem as nossas crianças, Marilda?

__É o Julinho, nosso fio, ele tá pssano um pobrema muito séril, na escola!

__Que problema sério, Marilda? perguntou, assustado...

__Bulim...

__Que? Marilda! Bulling? Como?

__Nosso fio contô qui us mininu fica chamando ele di Mariazinha. Ocê tem qui i na escola pra tomá providences...

__Marilda, você sabe que eu não tenho tempo, não posso faltar no serviço. O Julinho é um menino tímido, você o mima demais. Ele tem que aprender a se virar sozinho. Deixa que eu vou conversar com ele, amanhã, vou ensinar ao meu filho o que fazer! ( Marilda percebeu que não adiantava discutir)... Mas, continuou:

__Tem, tamem a Lucinha...

__Que é que tem a Lucinha?

__Ela brigô na escola e a deretora mandou chamá o responsavil...

__Vá você, então, Marilda.! Isso são coisas de criança, acontece...

__É, mais tem um negocil qui num contei pro ocê...

__Que foi, Marilda, que você não me contou?

__É a Sueli, ela ficô mocinha i já tá di beijim cum u mininu da Escola.

__Ô Marilda, isso é normal... Você se lembra quando a gente se beijou pela primeira vez? Então, você tinha quase a mesma idade da Sueli...

__É, já to vendo que ocê não se procupa cum nossos fio nem um poquinho...

__Como não me preocupo? Está sendo injusta. Quem é que sustenta esta casa, senão eu? Esses probleminhas, compete a você...

__Pobreminhas??? Ah! Era só u qui fartava. Si é ansim, vô trabaiá fora tamem pra ajudá ocê a sustentá a casa...

__E as crianças, como ficam?

__Vo arrumá uma empregada i dexá us mininu cum ela...

__Ô que? Os meus filhos não vão ficar com empregadas, não permito!!!. Já estou com a cabeça cheia, chega de tanta chateação! Está bem, Marilda... Você venceu, amanhã, mesmo, vou resolver os três problemas de uma só vez...

Pela manhã, chamou o Julinho e teve uma conversa séria com ele. O menino ouviu tudo, direitinho e prometeu que seguiria os conselhos do pai... Depois, chamou a Sueli e teve, também, com ela, uma conversa esclarecedora... Com relação à Lucinha, resolveu que iria à tarde, levá-los à escola e aproveitaria para falar com a diretora. Ao chegarem à escola, dirigiu-se ao gabinete da diretora e deixou o Julinho e a Sueli, entregues aos seus conselhos, ciente de que tinha feito o melhor, estava feliz, de alma lavada, conversara com os filhos com a mais pura sutileza, sem reprimendas, digno de um pai que ama muito seus filhos...

Voltando ao problema relativo à briga da Lucinha, chegou ao gabinete da diretora, cumprimentou-a, ouviu a queixa, pediu desculpas, pela filha, mas... não resistiu e, pensando estar protegendo a menina, questionou o ocorrido:

__Sra. Diretora, eu penso que se minha filha brigou, é porque alguém a provocou e, nesse caso, ela estaria certa em revidar...

__Não Senhor! Aqui, nós ensinamos às nossas crianças que, quando houver provocação, elas venham aqui para reclamar; sem usar de violência; assim nós evitamos as brigas e asseguramos o bom relacionamento entre os alunos...

Nessa altura, José já estava se dando conta da burrice que fizera, com relação aos tais conselhos... Já ia saindo; antes, mesmo, de tocar a sineta para a entrada, ouviu-se um rebuliço no pátio da escola: era um grupo de garotos, batendo no Julinho, apanhava um tapa daqui, um peteleco dali, um cascudo dacolá...Quando José chegou perto, um funcionário da Escola já havia posto os meninos : pra correr. José, ao ver o filho todo sujo e machucado, falou, aflito:

__Que foi que te fizeram, filho? Por que te bateram?

__Eu fiz o que o senhor mandou: um dos meninos que costuma me provocar diariamente, se aproximou de mim, antes que ele me chamasse de Mariazinha, dei-lhe um soco no olho, a gang dele veio, em seguida, e me pegou...

__Perdão, meu filho, acho que não te expliquei direito. Em casa, vamos conversar de novo...E a Sueli, onde estará,neste momento?

__Ah! Lá está ela, ali, atrás daquela árvore frondosa, ao lado do pátio, com o namorado, aos beijos...

__ Sueli!! Gritou o pai: __Que foi que te falei, minha filha?

__O senhor me disse que ficava feio a gente se beijar na frente dos outros...

Frente aos acontecimentos, José chegou à triste conclusão: não sabia, mesmo, embora os amasse muito, como orientá-los na vida e nos relacionamentos...

PS. Adoro ler os contos da Maria Mineira, digna escritora, onde, retrata tão bem o homem sertanejo, com o seu linguajar caipira... Tentei fazê-lo também, com a minha personagem Marilda. Não sei se agradei, se não, peço desculpas. Beijo para todos!!! Tete Brito

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 16/08/2011
Código do texto: T3162533