A pegadinha divina

Se fomos realmente feitos à imagem e semelhança de Deus, eu não sei. Mas há de se admitir que o ser humano, ainda que apresente diversas falhas de caráter, tem como corpo uma máquina perfeita. Ou quase...

É claro, algumas enfermidades surgem como eventuais defeitos de fábrica. Tirando isso, a grande pegadinha divina é que nosso corpo não funciona no esquema “comer sem engordar”. Se obesidade é doença e magreza demais, também, custava ter nos programado a nunca sair do peso ideal?

Lembro de ficar em completo estado de admiração nas aulas de biologia ao estudar sistemas digestivo, auditivo, nervoso, e bla bla bla. Porque me dava a impressão de que nascemos com uma imensa e complexa indústria dentro de nós, com cada “funcionário” – do mais simples estagiário ao mais poderoso chefão – trabalhando em uma interdependência louca, porém harmônica, que nos permite ver, falar, cheirar e viver como se tudo que fazemos fosse tão simples.

Só que no meu mundo dos sonhos, de tão inteligente que o cérebro é, ele pensaria em reformular nossa grande indústria com uma ousada revolução: deixar cada indivíduo deste mundo com o peso que ele sempre desejou.

Bastava uma “simples” mutação. O cérebro conhece bem nossos hábitos e desejos. Ele sabe que modelos, ou aspirantes a top model, querem ser esbeltas. Lutadores, halterofilistas e abusados preferem músculos inchados. Provavelmente, alguns amantes do sumô escolheriam continuar gigantes. Mas o resto da população sonha apenas em ser... gostoso.

Sim! Ter um corpo com medidas sutis, talvez até com uma pancinha simpática para dar um charme, mas sem essas gordinhas e/ou gordurões que tentam subir pelo cinto da calça, fazem o sutiã apertar nas costas, deixam as coxas gelatinosas, e impulsionam tanta gente a usar sufocantes cintas ou apelar para o bisturi.

Uma gostosura segura, que não ameace te abandonar sempre que você paquera com um bolo de chocolate, sorvetes e pipoca. Assim, todo mundo pode viver mais feliz, sem precisar pensar no fatídico dia em que o desespero com a proximidade do Verão te levará a pesquisar dietas na internet. Essas torturas que te aconselham a comer 20 maçãs por dia e trocar o almoço normal por um suco esquisito de chicória com abacate, beterraba e melão.

Minha esperança é que a qualquer hora meu cérebro vai virar meu amigão e mudar meu corpo sem eu ser forçada a deixar de lado minhas paixões alimentícias. Basta ensinar minhas células e órgãos a queimar meus eventuais excessos de gula.

É justo! Afinal, se Deus e/ou a evolução fez desse mundo um lugar onde quase nenhuma salada é mais deliciosa do que bacon, chocolate e malditas frituras maravilhosas, forçar-nos a engordar só pode mesmo ser uma brincadeirinha de mal gosto!