O DRMA DA VIDA PÚBLICA IX
ZAQUEU E O SENADOR
Militando sempre na política Zaqueu ficara mais conhecido do que cachoeira de beira de estrada. O sujeito era mais intruso do que cachorro em dia de festa, e esforçava-se para estar sempre em evidência em todos os acontecimentos regionais. Para ele tudo era mole tal qual mingau fora do ponto.
Pela fama que já possuía, por ter sido vereador e prefeito em Viruslândia, andava às vistas para a campanha ao Legislativo do Estado. Visitava, tempesti¬vamente, todas as festas da região.
Porém, naquele dia, Zaqueu deu-se mal. Era uma casa grande, com longo gramado, piscina de vinte e cinco metros, arvoredo que cercava de ampla sombra o lugar. Muro alto, portão de aço, e uma majestosa guarnição era a segurança. Zaqueu olhou pela fresta e viu que gente elegante frequentava o lugar. Arrumou bem o nó da gravata, ajeitou de novo o paletó, deu uma cuspida nos dedos e alinhou as sobrancelhas, franziu a testa e apertou a campainha. Em poucos segundos o porteiro da mansão o atendia.
— Pois não Senhor. . .
— Zaqueu — confessou ele.
— Da parte de quem?
— Da minha própria parte. Não é está a casa do Senador?
— Sim.
— Posso entrar?
— Evidente que pode.
Zaqueu enfiou-se entre as pequenas ruelas que levavam até a escadaria da mansão e entrou no amplo salão. As pessoas estavam quietas, cabisbaixas, preocupadas, e Zaqueu sentiu uma pequena ponta de indiferença por parte dos presentes. Desconfiado, ele baixou a tez, estalou os dedos e ziguezagueou pelo salão. Tentou puxar conversa com algumas senhoras, mas fora em vão. Então saiu a procura de um homem vestindo preto, gravata borboleta e uma bandeja nas mãos, porém não encontrou ninguém assim. A garganta continuava seca, bem diferente das outras festas.
Zaqueu sentiu-se mais rejeitado do que bezerro guacho e perguntou para a pessoa ao lado:
— O senhor é o quê do Senador?
— Irmão — respondeu o nobre senhor.
— Por que ele ainda não chegou?
— Porque estão demorando no hospital.
— Mas, o senador está doente?
— Não. Agora não, mas estava.
— Graças a Deus! — exclamou Zaqueu.
— Graças a Deus o raio que o parta, imbecil! — praguejou a irmão angustiado — o Senador está morto.