O DRAMA DA VIDA PÚBLICA XX

ZAQUEU E O SANTO

Naquele dia Zaqueu estava mais tenso do que cabo elétrico no inverno. Chovia aos baldes e as estradas vicinais iriam à bancarrota. Como iria arrumá-las, se as máquinas estavam todas desmontadas? É isso ia mal, muito mal!

Nem por isso dava trégua aos adversários que o criticavam sem nenhum escrúpulo. Preferia Zaqueu meter a culpa em São Pedro por causa da chuvarada. Ele precisava dar um jeito naquele impasse e reclamou com o Santo. Então foi até a igreja, ajoelhou-se ao pé do santo e danou a rezar.

— São Pedro — disse ele em duras preces — não deixe um só buraco nas estradas e nem deixe vazar água nos telhados das casas dos pobres. O povo já não aguenta mais tanta chuva!

— Você precisa ser mais generoso Zaqueu! — dizia uma voz rouca, que Zaqueu não sabia de onde vinha.

— Quem está aí? — perguntou, preocupado feito pai de primeiro filho na maternidade.

— Sou eu Zaqueu. São Pedro, aquele a quem você reza.

— Não acredito!

— Se não acredita em mim, por que reza para mim e me pede favores?

— Todo mundo reza, mas ninguém tem certeza que alguém escuta — justificou ele.

— Pois ouve Zaqueu. Tanto ouve, como também vê tudo àquilo que você faz na Terra, por você e por todos os outros.

— Até quando a gente faz tudo bem escondidinho?

— Até, Zaqueu.

Aquilo era ruim, muito ruim. O prefeito estava mais encabulado com a conversa do que corno de primeira vez. Não sabia o que fazer e nem o que dizer ao Santo; pois falar com um santo talvez fosse um privilégio, mas estava sendo um martírio.

— Pode ajudar na crise? — perguntou.

— Posso — respondeu o Santo. — Mas é preciso que você faça também sua parte.

— E o que devo fazer?

— Nunca mais mexa com as mulheres alheias; nunca mais roube o cofre público; deixe de poligamia; nunca mais vá aos bordeis; nunca mais minta aos correligionários quanto às verbas que são repassadas ao município, e não deixe seus empregados sem pagamento!

— Pensando bem, seu santo — concluiu ele — uma chuvinha a mais não tem importância...

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Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 17/08/2011
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