O DRMA DA VIDA PÚBLICA XI

ZAQUEU E OS BOTÕES

De tanto aprontar as suas como político Zaqueu ficou mais conhecido do que cachoeira de fácil acesso. Nos cafés, todas as manhãs bem cedo, juntavam-se os línguas-pretas para contar anedotas em torno do típico prefeito.

Aproximava-se a convenção para lançar candidatos ao governo e para deputados. Por isso uma grande reunião do Partido de Zaqueu teve lugar na Capital. Havia delegados partidários de todos os cantos do estado, convidados especiais e políticos de toda sorte, no serviço de escolha do sucessor da velha raposa; e essa reunião Zaqueu jamais perderia.

Ele estava mais ansioso do que pai de primeiro filho em sala de espera da maternidade, para saber se o candidato era ou não o de suas relações, que nem prestou atenção que estava na convenção errada: a do Partido adversário, que por uma infeliz coincidência era no mesmo dia.

A ordem do dia foi lida pelo chefe do protocolo e começou a formação da mesa diretora para o início da convenção. Zaqueu, sentado na primeira fila do auditório, com olhos mais ligeiros do que gazela com medo, estava doido para fazer parte da elite.

Por educação, o chefe do protocolo, ao ver um membro de outro partido e prefeito de uma cidade do interior prestigiando a convenção, foi logo o convidando para sentar-se ao lado do presidente.

— Presidente, o senhor não era do PRN?

— Sim, eu era — respondeu o chefão.

— Mas eu não estou entendendo uma coisa!

— Que coisa?

— A sua casaca!

— E o que tem minha casaca?

— Não tem botões.

— Mas por que teria a minha casaca que ter botões?

— Porque toda casaca tem botões e a sua não tem!

A discussão foi convenção à dentro, e Zaqueu sempre ocupado quanto aos botões da casaca do Presidente. Até que ele encheu de vez o saco, e o Presidente estava desesperado tal qual rato na tigela, ordenou:

— Vamos fazer uma coisa: — você volta ao seu Partido, que eu mando colocar botões em minha casaca, e fim de papo.