Das Coisas que Existem e das Saudades
Das Coisas que Existem e das Saudades
Todas as coisas que existem, existem apenas porque estão na cabeça da gente.
Ontem eu considerei o absurdo quando imaginei que um Urso poderia voar.Quando imaginei, com asas e tudo, ele se tornou existente dentro de mim. Um absurdo, mas um absurdo existente.
Também ontem não consegui imaginar alguém caminhando em Nova York fumando o seu cigarro.
Com certeza, alguém caminhou e fumou seu cigarro, mas ele não esteve em meu mundo porque eu não o imaginei.
A possibilidade de existir ou não, portanto, independe de qualquer coisa existir como algo que entendemos reais, ou quando irreal, como quando um Urso é imaginado em seu vôo.
O que quero dizer é que vale o que está dentro da gente, em nosso pensamento, e não o que vai pelo lado de fora, na periferia da gente.
As crianças não sabem, mas vivem imaginando coisas e vivendo esse maravilhoso mundo das coisas que imaginam dentro delas.
Aí, quando lhes apresentam o “Real”, seus mundos ficam chatos e as crianças se tornam adultos chatos.
Também refleti bastante sobre sonhos e descobri que eles não devem se confundir com vontades.
A vontade a gente tem quando quer as coisas.
Os sonhos a gente sente quando quer dar sentido à vida.
É claro que muita das vezes para se viver essa vida é preciso de muita vontade para se buscar recursos e abrir caminhos. Nunca porém sem o sentido que os sonhos nos trazem.
Essa busca há de responder ao que acaricia e suaviza o coração.
Para isso há de se trilhar um caminho que nos habilite a entender a paciência e a moderação.
É a persistência de quem descobre um tesouro que está ali.
Questão de tempo.
Se não for assim, podemos acabar levando para casa que existe dentro da gente um mundo que não é o nosso porque não o sonhamos.
Por isso, muito pior do que esperar a realização de um sonho, é buscar pela vontade um desejo que não se sonhou.
Corre-se o risco de se plantar no mundo nosso que existe, uma criatura que vai pesar, com certeza, e para sempre, como um peso de um Urso que desejaríamos que voasse.
E é muito diferente da leveza do sonhar com aqueles que já nasceram para voar.