O DRAMA DA VIDA PÚBLICA XXII
O CELULAR
Naquele dia Zaqueu amanheceu de pés trocados mesmo. Visruslância já tinha até central telefônica e o prefeito não precisava mais pedir as ligações à telefonista. Ligava direto de seu gabinete, que, aliás, era chique como vestimentas e penteados das moças em dias de casamento.
A manhã era chuvosa e havia relâmpagos e trovões lá fora. Zaqueu perturbado com tantas obrigações nem mesmo dava conta de que fone ao ouvido e relâmpagos não combi-nam. Um forte relâmpago seguido de um estrondo descomunal deixou o político um tanto surdo por alguns instantes.
— Essa merda de fios não serve mais, vou comprar é um celular hoje mesmo! — Esbravejou o militante.
Chamou o secretário municipal das comunicações, e logo deu a ordem:
— Peque o veículo oficial da prefeitura, vá até a comarca e compre um celular pra mim! Um não: compre logo três!
— O que o senhor vai fazer com tantos celulares, prefeito? Indagou o bajulador.
— Ora, um pra mim, um pra Maria e outro pra Tonha.
O Batista, secretário de todos os momentos imaginou logo que um daqueles aparelhos fosse pra ele, mas errou. E pensando excomungou: “O filho da mãe ainda está com as duas”! Mas seguiu às ordens, foi até a cidade grande, comprou os aparelhos e voltou logo após o almoço. Passou pela casa do chefe, entregou a ele os três aparelhos e voltou à pasta.
Lá pelas tantas, se lembrou de algo e foi até ao alcaide em seu gabinete e lá estava Zaqueu em altos telefonemas ao ver o auxiliar entrando.
Batista aguardou o final da conversa, que, aliás, era papo que prometia e, estendendo a mão com três pecinhas minúsculas, exclamou:
— O senhor me desculpe, mas esqueci de inserir os chips nos telefones!
— Obrigado, Batista — ele disse, enquanto o secretário se retirava.
Mais tarde, Batista voltou ao gabinete de Zaqueu para dar um recado importante e encontrou o prefeito reunido com o delegado, o bate-pau da polícia e o padre, os quais havia convocado só para ouvi-lo falar pelo telefone novo; e estava em meio a uma animada conversa com o governador.
— Licença senhor prefeito — ele disse. Esqueci-me de lhe dizer que para o aparelho funcionar, a moça da loja disse que é preciso carregar a bateria por 24 horas com esse fio aqui ó.
O padre só deu uma olhadela para o delegado, juntou sua bengala e foi embora.
Minutos depois Zaqueu chamou o secretário e foi logo dizendo:
— O que você fez com a sacolinha que trouxe os celulares dentro?
— Eu a guardei, prefeito, pode ser útil um dia.
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