DE REPENTE 40

A maioria das mulheres tem uma crise no período dos 30 anos, mas podem ficar tranqüilas garotas, essa primeira crise da idade madura não é nada comparada com a crise dos 40.

Na crise dos 30 a mulher pensa:

Preciso me casar!

Caramba, ainda quero ter um filho!

Meu Deus, o que falta pra minha carreira deslanchar?

Cadê minha casa própria?

Estou transando pouco porque estou trabalhando muito, ou estou trabalhando muito porque estou transando pouco?

Agarro aquela chance de emprego e vou pra Nova York ou me caso com o Julinho?

E agora? Segundo filho ou carreira?

E agora? Segundo filho ou separação?

Apartamento maior ou carro zero?

Chance de trabalho na Europa ou 10 anos de casada?

E por aí vai.

Nos anos seguintes a mulher se distrai tentando resolver tudo o que “falta” na sua vida e lá pelos 35, 36 já aprendeu a usufruir do que conquistou e relaxar com o que ficou pendente. Solteira, separada, casada, com um ou dois filhos, na Europa, no Brasil, não importa, ela já se sente dona de si, segura dos caminhos que escolheu, menos ansiosa por alcançar o que ainda deseja e certa de que tudo vai bem. É jovem, bonita, madura e feliz.

Mas... Como não podia deixar de ser, está tudo tão bem que aí vem os 40!!

Ah, os 40!!! Eles chegam sem pedir licença, tomam conta de tudo, quebram a banca!!

Não perguntam seu nome, não pedem seu telefone, nem te levam pra jantar. São como meninos muito mal educados, do tipo filho da vizinha folgada, daqueles que você quer se esconder e fazer de conta que não tem ninguém em casa quando eles tocam a campainha. Pulam no sofá, abrem gaveta, quebram botão do som, derrubam suco no tapete da sala, riscam a parede com aquela caneta hidrográfica azul, brincam com a água da privada, entram no seu quarto, fuçam o armário, encontram o vibrador e trazem pra sala perguntando: mãe, o que é isso? Um desastre!

E tudo isso enquanto a vizinha, aquela folgada, abre sua geladeira, toma sua cerveja, fala mal de todos e ainda pede algo emprestado, gritando de vez em quando “vem aqui menino, não mexe em nada!” como se ela se importasse com isso.

Pois é, os 40 são mais ou menos assim, só que tocam sua campainha diariamente. Avassaladores já vão provocando defeito em tudo, no motor, no câmbio, na injeção eletrônica e em todos os acessórios, sejam eles de fábrica ou não.

Quem chamou os 40 de idade da loba errou mesmo de bicho, a piada é velha mas começa sim a idade do “comdor”, e serve basicamente para aprendermos a perceber nossos limites físicos, o que até então na nossa doce inocência era coisa pra velho caquético.

Com 40 a visão começa a falhar, coluna, pernas, joelho, calcanhar, começam a doer, a tireóide dá pau, você descobre o que é osteoporose, climatério, esporão de calcâneo, fica íntima do endocrinologista, a vida sexual fica meio estranha, ora é fogo, ora é fogacho, os cabelos resolvem mudar de cor e se tornam rebeldes, só vão pra onde querem.

Se sua vida foi sedentária então, danou-se! Você começa a se perguntar porque sua mãe não te matriculou em uma academia aos 5 anos de idade.

Exagero? Não, não é.

Mas calma. Tudo tem salvação. Não nos fazemos de rogadas, mudamos a dieta, reduzimos drasticamente a periodicidade daqueles cafés da manhã fartos naquela padaria excepcional do bairro e daqueles jantares nas cantinas maravilhosas saboreando vinhos e massas com as amigas.

Agradecemos a bendita existência dos chás coloridos, da soja, linhaça, quinua e afins. Descobrimos o pompoarismo, os shakes diet e as barras de cereal. Ficamos sócia de uma clínica de estética e deixamos 10 cheques na academia, assim fica tudo resolvido e recomeçamos a vida.

Depois deste turbilhão ficamos mais fortes, afinal superamos tudo com nobreza e passamos a semear a assertividade.

Se o casamento durou, percebemos que aquele cara que dava tanta dor de cabeça, com aqueles defeitos tão irritantes, péssimo em administração de finanças, ou meio galinha, agora já não é tão problemático assim, é batalhador, tem respeito por você, é parceiro, amoroso, transa bem, sabe do que você gosta, tem um abraço aconchegante e principalmente é teu cúmplice.

Passamos a ter mais paciência com a toalha molhada, com o creme dental aberto, com o futebol, com o quarto desarrumado, com o ataque de amnésia que assola marido e filhos quando a gente faz um pedido simples do tipo “leva o cachorro pra passear”.

Se estivermos solteiras descobrimos que pegar uns gatos 20 anos mais novos de vez em quando não é tão indecente assim, que a tecnologia pode trazer mesmo o mundo até você, que filme pornô tem seu valor, que sexo a três é uma opção possível; sexo pago também; sexo com ela, sei lá?

Descobrimos que fazer coisas como viajar, ir ao cinema, ao teatro, sozinha, também é bom.

Aprendemos que a nossa mãe não estava tão errada assim. Que o cara certo não é um cara perfeito. E que nós não somos perfeitas.

Aí pronto, a vida segue seu curso e voltamos a nos sentir lindas, tranqüilas, seguras, maduras e muito, muito mais felizes!