Breve memórias de uma agenda

Fui criada a partir de diversos materiais, papel, plástico, tinta, tecido, cola, etc. Primeiramente me imprimiram. Fui composta de dados pessoais, calendário, endereços e várias outras coisas que poderiam dar-me os méritos não de uma boa, mas uma excelente agenda. Não tardou e fui exposta em uma papelaria para venda. Já nos primeiros dias fui sendo observada por todos. Folheavam-me e ouvia os admirados elogios: Que agenda legal! Ela é massa! Fantástica! Tais elogios afagavam meu pequeno ego tipográfico.

Não passaram quinze dias e fui vendida. Minha nova dona era uma jovenzinha adolescente de 13 anos de idade. Mal chegamos em casa e já fui recebendo meus primeiros escritos. Com o passar do tempo cada vez mais fui sendo requisitada. Eu me sentia o máximo. Era sempre a primeira a saber das coisas. Fui consolo nas horas tristes. Cúmplice nas alegres. Instrumento de poetisa nos horas de inspiração. Eu era como um tesouro guardado a sete chaves.

Os dias corriam, os meses passavam e o ano chegara ao fim. Lembrei compromissos, recebi endereços, telefones, confidências. Já não se podia mais escrever e minhas brancas e pautadas páginas. O ano findou-se e aos poucos fui sendo esquecida.

Hoje estou numa gaveta escura junto de vários papéis velhos, recibos, cartas, lembranças, etc. Todos esquecidos. Isto às vezes me dá uma angústia que tenho vontade de gritar. Mas aí lembro-me que este é o meu destino. E eu como uma agenda que sou não poderia fugir do triste fim de uma agenda...

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 21/08/2011
Reeditado em 28/09/2011
Código do texto: T3173602
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